domingo, 17 de fevereiro de 2013

A RENUNCIA PAPAL SERIA NORMAL?

Embora a eventualidade fosse juridicamente prevista, é absurdo afirmar que a renúncia de um papa é “um fato normal na Igreja Católica”, como fez o arcebispo de Salvador, dom Geraldo Majella, em entrevista à rádio Jovem Pan. Dos 265 papas listados pela história oficial em quase 2 mil anos, apenas quatro renunciaram: Bento IX (1045), Gregório VI (1046), Celestino V (1294) e Gregório XII (1415). E sequer eles foram precedentes comparáveis.

Gregório XII, papa de Roma, foi forçado pelos cardeais a abdicar, enquanto os “antipapas” concorrentes João XXIII de Pisa (que não se confunda com o papa de mesmo título do século XX) e Bento XIII de Avinhão eram depostos, para pôr fim ao Grande Cisma do Ocidente e reunificar a Igreja. Bento IX renunciou para vender o cargo a Gregório VI que, por sua vez, foi “renunciado” à força pela maioria de seus bispos, com apoio do imperador Henrique III.
Celestino V, um eremita respeitado como homem santo em Roma, foi eleito papa contra a vontade ao ameaçar com a ira divina o colégio de cardeais que se reunia havia dois anos sem chegar a um consenso. Em cinco meses no cargo, mostrou-se completamente incompetente. Aconselhado pelo cardeal Benedetto Gaetani a abdicar, decretou o artigo do Código Canônico usado por Bento XVI. Gaetani elegeu-se papa Bonifácio VIII e por recear a influência do ex-papa, mandou prender o idoso Celestino, que morreu após dez meses de prisão. Bonifácio ficou quase nove anos no trono, mas se desentendeu com Filipe IV da França, quando este quis taxar a Igreja. Após se declarar superior aos reis e excomungar Filipe, foi capturado por tropas francesas que o intimaram a renunciar. Ao recusar, foi espancado e morreu três dias depois. Após a morte, sofreu a humilhação adicional de ser destinado ao oitavo círculo do Inferno de Dante Alighieri, seu inimigo político, ao lado de Celestino V e Nicolau III.