quinta-feira, 30 de junho de 2016

As duas decisões do STF que ajudarão a desafogar os presídios brasileiros

O STF tomou, nos últimos dias, duas decisões animadoras para quem luta por um sistema prisional digno e contra a hipertrofia do Estado policial. No último dia 23 a corte definiu que tráfico cometido por réu primário e sem ligação com organização criminosa não é crime hediondo. Ontem, dia 29, o tribunal determinou que o condenado poderá cumprir pena em casa se não houver vaga em presídio.

Apesar de ter um histórico de respeito à visão garantista da Constituição, especialmente na primeira década do século 21, nos últimos anos o STF vinha mudando seu entendimento em julgamentos importantes, como o do mensalão, no qual a presunção de inocência foi solenemente ignorada em nome de uma aplicação esdrúxula da teoria do domínio do fato. A decisão, tomada em fevereiro deste ano, no sentido de permitir que condenados por crimes possam começar a cumprir a pena após a decisão de segunda instância foi mais um indício da mudança de rumo do STF, tendo sido considerada por criminalistas como o enterro do garantismo no Brasil. As decisões dos últimos dias 23 e 29 rompem essa tendência de endurecimento penal.

A decisão de não considerar crime hediondo o tráfico cometido por réu sem antecedentes criminais pode fazer com que 40% dos mais de 600.000 apenados do Brasil tenham direito à progressão da pena. 27% dos presos no Brasil respondem por tráfico, sendo que se considerarmos somente as mulheres presas esse número sobe para 64%, segundo relatório divulgado em 2014 pelo Ministério da Justiça.

Muitas dessas pessoas são presas desarmadas e sem a prova material do tráfico: dependendo da interpretação do delegado, basta a posse de uma certa quantidade de droga e de dinheiro para o cidadão ser considerado traficante. Após o "flagrante" o próximo passo normalmente é a pessoa ser jogada em uma das celas superlotadas dos deploráveis presídios brasileiros, especialmente se for negro e/ou pobre, absoluta maioria da população carcerária em nosso país. No presídio o novato é cooptado facilmente pelos grupos criminosos e a ressocialização já se torna quase impossível. Quantos meninos e meninas das periferias ainda terão a vida destruída por conta da estupidez do nosso sistema penal? Para a sociedade o efeito também é devastador, uma vez que o clichê de que os presídios são escolas do crime não é apenas retórica, mas realidade patente.

O discurso conservador de que o endurecimento do sistema penal é melhor para a sociedade ofende a lógica mais básica, portanto. O juiz Marcelo Semer deixa isso claro em artigo publicado no seu blog:

A ideia recorrente de que prisão deve ser transformada em um profundo sofrimento e mal-estar (como se atualmente fosse “um hotel cinco estrelas”) só aprofunda a precarização da situação carcerária.
A imensa omissão do Estado na conservação dos direitos dos presos é o grande estimulador dos comandos internos, por meio dos quais líderes subjugam os mais frac/os e vendem vantagens e proteções.
A prisionalização excessiva de jovens primários por crimes menos graves fornece, enfim, um enorme exército de mão de obra para vitaminar as facções. O crime organizado agradece.
Em algum momento vamos compreender que a repressão desmedida não favorece a redução da criminalidade, só a aumenta. Que não seja tarde demais.


Que essas decisões sejam um sinal de que o STF voltou a ser um garantidor dos direitos fundamentais previstos na Constituição. Para que possamos ver cada vez mais casos como o que viralizou ontem, do preso que pôde estudar graças à progressão do regime fechado para o semiaberto e convidou a juíza que concedeu a progressão para participar da banca na apresentação do seu TCC. Ressocializar é o caminho.

Fonte:http://www.ocafezinho.com/2016/06/30/as-duas-decisoes-do-stf-que-ajudarao-a-desafogar-os-presidios-brasileiros

quarta-feira, 29 de junho de 2016

POLÍTICA: Serra concede passaportes diplomáticos a pastor R.R. Soares e sua mulher



De acordo com portaria publicada no Diário Oficial da União nesta quarta-feira, o ministério das Relações Exteriores, sob o comando de José Serra, concedeu passaportes diplomáticos ao pastor Romildo Ribeiro Soares, mais conhecido como R.R. Soares, e a sua mulher, Maria Magdalena Rezende Ribeiro Soares. Os documentos foram solicitados em nome da Igreja Internacional da Graça de Deus, liderada por R.R., no último dia 16 de junho, e têm validade de três anos. Em 2013, com Antonio Patriota à frente do Itamaraty, o casal já havia adquirido acesso ao passaporte especial em “caráter de excepcionalidade”.

Considerado pela revista “Forbes” o quarto pastor mais rico do Brasil, com fortuna avaliada em R$ 412 milhões, Soares é casado com a irmã de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus. Com mais de 5 mil igrejas espalhadas pelo mundo, o pastor é figurinha fácil em horários loteados na TV aberta, onde contabiliza cerca de 100 horas semanais de aparição com seu programa “Show da fé”.
Romildo Soares e Maria Magdalena: passaporte diplomático com aval de José Serra.

Polêmica e promessas
Há pouco mais de um mês, Serra enfrentou uma polêmica ao renovar o passaporte diplomático do pastor investigado pela Lava Jato Samuel Ferreira e de sua mulher, Keila Campos Costa Ferreira. À época, o ministro prometeu reavaliar a política de concessão deste tipo de documento.

Samuel é presidente da Assembleia de Deus Madureira, localizada em São Paulo. Seu nome está sendo investigado pela Operação Lava Jato. No último dia 11 de maio, o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu manter a determinação do juiz Teori Zavascki, que remeteu para o juiz Sergio Moro investigação envolvendo lavagem de dinheiro para o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ) por meio da igreja e do pastor Samuel

Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/brasil/serra-concede-passaportes-diplomaticos-pastor-rr-soares-sua-mulher-19607269.html#ixzz4D01llwbg

CURIOSIDADES: Maior diamante bruto do mundo pode ser seu - por R$ 230 milhões

 O Lesedi la Rona
O maior diamante bruto do mundo poderá render mais de R$ 230 milhões de reais no que promete ser um leilão sem precentes, na noite desta quarta-feira, em Londres. 

O Lesedi la Rona, que tem quase o tamanho de uma bola de tênis, foi escavado em Botswana, na África, em novembro.

O diamante bruto tem 1,109 quilates e especialistas acreditam que a pedra tenha mais de 2,5 bilhões de anos.

Trata-se do maior diamante bruto já leiloado. A operação ficará a cargo da casa Sotheby's.

David Bennett, diretor da divisão de joias da Sotheby's, disse que a descoberta do Lesedi la Rona é o "achado de uma vida".

"Todos os aspectos desse leilão são sem precedentes. Ele não é apenas superlativo em tamanho e qualidade, mas nada dessa escala foi a leilão antes".

Segundo um estudo do Instituto Gemológico dos EUA, a cor e a transparência do diamante são típicos das gemas do tipo IIA - a classe das pedras consideradas mais puras quimicamente e conhecidas pela transparência ótica. Apenas 2% dos diamantes do mundo se encaixam nessa categoria.

O Lesedi La Rona é o maior diamante bruto encontrado em mais de 100 anos - ele mede 6.64 x 5.5 x 4.2cm.

Em termos de tamanho, ele peder apenas para o Diamante Cullinan Diamond, garimpado na África do Sul em 1905 e dado de presente ao rei Eduardo 7º.

Com 3,106 quilates, o diamante foi cortado em nove pedras diferentes, muitas ainda em poder da Coroa Britânica. Entre elas está a Grande Estrela da África, atualmente o maior diamante lapidado do mundo.
Joias da Coroa
FONTE:  http://www.bbc.com/portuguese/internacional-36661110?ocid=socialflow_twitter

JUDICIÁRIO: Prisão de Paulo Bernardo foi 'constrangimento ilegal', segundo Toffoli

"Nem mesmo no curso do 'mensalão' houve a decretação de prisões provisórias", disse ministro do Supremo Tribunal Federal na decisão de hoje
Paulo Bernardo

São Paulo - O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), revogou hoje (29) a prisão do ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Toffoli indeferiu pedido de liminar na Reclamação 24.506. Segundo o ministro, a decisão se justifica porque a prisão configurou "flagrante constrangimento ilegal, passível de correção por habeas corpus de ofício".

O ministro determinou que o Juízo Federal da 6ª Vara Criminal Especializada em Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional e em Lavagem de Valores da Seção Judiciária de São Paulo “avalie a necessidade, se for o caso, de aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, dentre aquelas previstas nos artigos 319 e 321 do Código de Processo Penal”.

Segundo os advogados Rodrigo Mudrovitsch, Juliano Breda e Verônica Sterman, a decisão "desconstruiu todos os fundamentos da prisão de Paulo Bernardo. Deixou claro que os fundamentos eram genéricos e que os requisitos legais e constitucionais não estavam presentes”.
Toffoli destacou que "descabe a utilização da prisão preventiva como antecipação de uma pena que não se sabe se virá a ser imposta".

"Aliás, nem mesmo no curso da AP nº 470, vulgarmente conhecida como o caso 'mensalão', conduzida com exação pelo então Ministro Joaquim Barbosa, houve a decretação de prisões provisórias, e todos os réus ao final condenados estão cumprindo ou já cumpriram as penas fixadas", acrescentou.

LEIA A DESCISÃO NA ÍNTEGRA

FONTE: http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/06/toffoli-revoga-prisao-de-paulo-bernardo-9611.html


terça-feira, 28 de junho de 2016

POLÍTICA: Com relator do DEM, base de Alckmin domina CPI da Merenda

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr_RvV-3Dbjt76_f6yIm3AsK_OIyBFsXvEoNVvtk0GoOt1WNWdwIYnOdH7M_QxJN7F2PqNr__4NfDlfOejC5kLSVMvCsMx2q2nKeAoLJPz_pr5Cr9iMlHqF2XfrGqgcOrFh8Sd2orIgxyY/s1600/MERENDA.png

Na semana passada, os nove integrantes da CPI, entre os quais oito são governistas, já haviam eleito o deputado Marcos Zerbini (PSDB) presidente da comissão e Adilson Rossi (PSB), vice-presidente

O líder da bancada petista, deputado Zico Prado, disse que o partido acionará a Justiça para tentar uma segunda vaga na CPI para a oposição na Alesp, composta também pelo PSOL e pelo PC do B. Na CPI, somente o deputado Alencar Santana (PT) não pertence à base do governo paulista.

Os deputados aprovaram os sete requerimentos que estavam na pauta da CPI entre os quais o pedido de todos os documentos do inquérito da Operação Alba Branca ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MPE), que desmontou o esquema de superfaturamento e pagamento de propina em convênio da Cooperativa Agrícola Familiar (Coaf) com a Secretaria Estadual da Educação no início deste ano.

FONTE: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2016/06/28/internas_polbraeco,538186/com-relator-do-dem-base-de-alckmin-domina-cpi-da-merenda.shtml

TECNOLOGIA: Conheça os 10 apps mais importantes para o brasileiro, segundo pesquisa


Os brasileiros que possuem smartphones acreditam que o WhatsApp é o aplicativo mais importante em seus aparelhos. De acordo com um relatório da eMarketer, em abril deste ano, 48% dos entrevistaram colocaram o serviço de mensagens no topo da lista, contra 44,9% em novembro de 2015.
O Facebook é listado como a segunda aplicação mais importante; mas, mesmo assim, não chega nem perto do resultado do primeiro: apenas 9,6% acreditam que a rede social é essencial.
Veja o ranking completo:
  1. WhatsApp – 48%
  2. Facebook – 9,6%
  3. Google – 1,6%
  4. Instagram – 1,6%
  5. Banco do Brasil – 1,4%
  6. YouTube – 1,3%
  7. Itaú Unibanco – 1,1%
  8. Chrome – 1,1% 
  9. Gmail – 0,9%
  10. Snapchat – 0,8%
Sistema operacional
Enquanto isso, o Android continua mantendo sua influência no mercado móvel brasileiro. A mesma pesquisa descobriu que 82,6% dos proprietários de smartphones tem um aparelho baseado no sistema operacional do Google.
O iOS aparece como segundo, com 9,2%, e o Windows Phone com 6,4%. A perspectiva é de que o Windows Phone ultrapasse o iOS em pouco tempo e se torne uma alternativa viável ao Android nos próximos anos.

fonte: http://olhardigital.uol.com.br/pro/noticia/conheca-os-10-apps-mais-importantes-para-o-brasileiro-segundo-pesquisa/59758?cmpid=tw-uol

FILOSOFIA: O racismo do Brasil é diferente dos Estados Unidos?

Um filósofo diz que a discriminação dos negros no país é mais social que racial
 Missa afro em São Paulo em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Agência Brasil


A questão do racismo se acentuou no Brasil. Ou melhor, a sociedade está condenando o preconceito e
colocando-o em evidência como nunca o fez. E isso é positivo. Representa uma nova tomada de consciência social. O que é mais difícil e ao mesmo tempo urgente para o Brasil, onde o número de negros e pardos supera o de brancos, é analisar a raiz do racismo que não é vivido igualmente nas diferentes partes do mundo.

Um negro, um indígena ou um mestiço podem ser alvo de preconceito por motivos diferentes. Um negro pode ser essa vítima simplesmente por ser negro. Trataria-se, no fundo, de reconhecer que ele pertence a uma raça inferior. É o racismo que não tem saída. Quando nos Estados Unidos os negros não podiam andar de ônibus ao lado dos brancos nem usar o mesmo banheiro, a discriminação era de raça. Era como se estivessem deixando os porcos entrarem em casa.

Quando no Brasil a polícia, na rua, flagra um assalto e um negro e um branco saem correndo, o mais certo é que tente deter o negro, que para o policial é o mais provável que seja um bandido. Nesse caso, o racismo não é necessariamente racial. A noção geral é de que os negros estudam menos, sabem menos, são mais pobres e, portanto, são mais inclinados ao crime. É um racismo social.

Se aquele indivíduo preso na rua, ainda que negro, fosse um catedrático de uma universidade ou um magistrado do Supremo, seguramente a polícia o teria tratado de outra maneira. Os negros não são discriminados por sua raça, mas sim pelo preconceito de que são mais burros e piores que os brancos.

O economista e filósofo Eduardo Giannetti, autor livro Trópicos Utópicos (Companhia das Letras), defendeu numa entrevista ao jornal O Globo a seguinte tese: “O racismo no Brasil tem uma natureza social, e não de raças”. Ele acrescenta que se trata de algo completamente diferente, por exemplo, do racismo norte-americano, onde houve uma “separação monstruosa”. Giannetti reconhece que o “abismo social” no Brasil – e não só aquele entre brancos e negros – é enorme e permeado de preconceitos. Mas, ao mesmo tempo, defende que a característica de tal racismo é sobretudo social.





Eduardo Giannetti
Nasceu em Belo Horizonte, em 1957.
Economista e fisolofo com doutorado pela Universidade de Cambridge.












Ele atribui a essa diferença do racismo brasileiro ao fato de que os colonizadores portugueses terem convivido com árabes durante séculos, o que lhes deu know how em relação às diferenças, “o que não ocorreu com os anglo-saxões”.
Será que isso quer dizer que o racismo vivido no Brasil é menos grave? Não. O fato de ser um racismo social não deixa de ser monstruoso e deve ser combatido com a mesma força com que Martin Luther King condenou o racismo de segregação nos Estados Unidos. O lado bom, se é possível usar esse adjetivo em um assunto tão terrivelmente desumano, é que por ser um racismo bem mais social, é mais fácil combatê-lo através de uma campanha cultural e política.

Para isso, é urgente que se coloquem todas as forças a serviço de uma melhor escolaridade para os brasileiros negros, algo que castiga os mais pobres, discriminando-os e relegando-os aos trabalhos mais “inferiores”. É urgente que se aprofunde, desde a escola, o conceito de que não existem raças, mas sim etnias, todas elas igualmente humanas, igualmente ricas e dignas de respeito.

Se é certa a tese de Giannetti de que o racismo brasileiro é fundamentalmente social, existe até a possibilidade, como ele afirma em seu livro, de que o Brasil possa ser hoje no mundo uma alternativa e até uma “utopia de civilização”, que poderia ser oferecida ao mundo em um momento de obscuridade e ameaças de novas barbáries que degradam a Humanidade.

fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/26/opinion/1466966859_490736.html?id_externo_rsoc=TW_CM

domingo, 19 de junho de 2016

Eliseu Padilha, o lado mais sujo da política

Chega a ser curioso o primarismo político da junta interina.

Assumiu o poder no bojo de um golpe parlamentar e no rastro de uma campanha moralizadora. A campanha uniu pontualmente mídia, Congresso e Ministério Público em torno de um objetivo específico: depor Dilma Rousseff.

Quando sai um governo e entra outro, o interino herda os poderes, mas também a visibilidade do anterior. Especialistas na pequena política, da cooptação do baixo clero, da atuação nas sombras, a junta interventora não se deu conta de que, à luz do dia é como mandruvás cobertos de sal. E partiu para o exercício do poder, da mesma maneira que os farrapos degolando os inimigos nos pampas.

Dentre todos os integrantes da junta, nenhum é mais agressivo e sem limites que Eliseu Padilha.

Coube a ele convocar dois assessores - Laerte Rimoli e Márcio de Freitas - para baixarias contra jornalistas críticos ao golpe. Jornalistas que se fizeram servindo o lado obscuro da política, não se pejaram em atacar a reputação de jornalistas que ousaram se interpor aos desmandos de seus chefes.

Padilha não se deu conta de que a exibição de poder, ainda mais por pessoa com seu passado, apenas chama a atenção das autoridades judiciais e da opinião pública.

Comportou-se como o gendarme de uma ditadura, quando não passava de inquilino provisório do poder.

Padilha é o lado sujo da política desde o governo Fernando Henrique Cardoso. Coube a ele, ao lado de Gedel Vieira Lima, o enorme trabalho de cooptação do PMDB para negar a candidatura a Itamar Franco nas eleições de 1998.

Em janeiro de 2001, em minha coluna na Folha, escrevi sobre ele o que se segue:

O desmonte dos transportes

Dentre todas as áreas do setor público, a que menos avançou foi a dos transportes. A única justificativa para a manutenção do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (PMDB), é não ceder às pressões do PFL, porque do ponto de vista operacional está jogada às traças uma das áreas fundamentais para a redução do "custo Brasil".

Aliás, a presença de Padilha depõe contra a aliança que mantém FHC, contra FHC e contra o próprio partido que o indicou -o PMDB. A questão da gestão passou a ser elemento vital. Tendo uma vitrine com a exposição do Ministério dos Transportes, o PMDB poderia escolher o melhor dos seus quadros administrativos para mostrar que está conseguindo assimilar as exigências dos novos tempos. Mas isso não ocorre.

O ministério foi transformado em um mercado persa, em uma troca de favores ampla, virou um arquipélago de feudos que atuam de forma independente, atropelando as exigências mínimas de uma ação coordenada.

A falta de comando de Padilha refletiu-se na própria regulamentação das agências reguladoras no Congresso. Sem um órgão atento que refletisse sobre o tema, o projeto Eliseu Rezende acabou sendo uma composição de todos os interesses, que resultou em um monstrengo regulatório. Em um tempo em que o mundo todo adota o conceito do transporte intermodal (a integração de todos os meios de transporte), o projeto prevê a criação de duas agências em separado, às quais se soma a indefinição em torno do DAC (Departamento de Aviação Civil).

No campo das concessões, as últimas bem-sucedidas datam de 1993, quando o então ministro Alberto Goldmann logrou a privatização de cinco rodovias -entre elas a Dutra e a ponte Rio-Niterói. Em 2000 foram três tentativas de privatização de rodovias federais, todas embargadas pelo fato de as licitações estarem viciadas.

A questão do transporte interestadual continua emperrada, apesar das juras públicas do ministro, há alguns anos, de que iria definir regras claras e não subjetivas para novas licitações, acabando com o cartel do setor.

Não se pretende que FHC vá manter incólume a aliança sem alguma forma de concessão. No entanto há um primado básico que não pode ser desobedecido: o primado da competência e da transparência. E, no caso dos transportes, desobedeceu-se.

No fim de semana, noticiou-se o indiciamento de Padilha devido à contratação de um servidor fantasma. Foi condenado a devolver R$ 300 mil ao erário. É mero aperitivo.

Se a Lava Jato se dispuser a esmiuçar os acordos das empreiteiras, no período em que Padilha foi Ministro, encontrará mais fantasmas do que nas covas coletivas.

Fonte:
http://jornalggn.com.br/noticia/eliseu-padilha-o-lado-mais-sujo-da-politica

Execução de cão que latia atrás de viatura gera revolta em favela de São Paulo

Bob tinha 4 anos, vivia cercado de crianças e era um dos mascotes da favela de Heliópolis, a maior de São Paulo. O cachorro não tinha casa nem dono, mas ganhava banho, comida, água e até roupas dos moradores.

Do Ultimo Segundo

Na noite do último sábado (11), Bob brincava perto de duas crianças, de 4 e 7 anos, por volta das 20h, quando correu atrás de um carro da polícia enquanto latia. De acordo com testemunhas do caso ouvidas pela BBC Brasil que pediram para não ser identificadas, um policial se irritou com a situação, sacou uma arma e fez um disparo fatal na cabeça do cão.

“A mesma viatura já tinha passado umas três vezes pelo local. Na quarta, um dos policiais sacou a arma de dentro da viatura e deu um tiró só na cabeça dele [Bob]. Foi muita maldade”, disse uma das testemunhas.

O caso revoltou os moradores da favela e ganhou repercussão nas redes sociais. A foto do cão morto, ao lado de um projétil de arma de fogo, se espalhou. Apenas uma das publicações feitas no Facebook teve mais de 800 compartilhamentos. “É inacreditável o descontrole de quem mais deveria ter controle! Os ferozes dentes trazem perigo para a guarnição inteira?”, comentou um internauta.

“Bob irá deixar muita saudade. Acredito que todos que o conheceram tem uma história para contar”, afirmou uma mulher em outra publicação.

A Polícia Militar informou que, na noite de sábado, fez patrulhas em áreas próximas a bailes que ocorriam em Heliópolis para “prevenir crimes e garantir o sossego da população”. O órgão, porém, disse que “não há registro de animais feridos.”

Manifestação
A indignação dos moradores também se refletiu nas ruas de Heliópolis. As principais vias da região foram bloqueadas em reação à morte do cão, como a estrada das Lágrimas, onde um ônibus foi incendiado. Na avenida Almirante Delamare, moradores viraram caçambas e queimaram lixo para impedir a passagem de veículos.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que os protestos foram motivados pela operação policial contra bailes funk. “A Força Tática chegou no local e os suspeitos dispersaram”, disse a Secretaria por meio de nota.

Para isso, a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, registrados em vídeos gravados pelos próprios moradores.

José Renato Varjão, de 33 anos, disse ter participado do protesto para cobrar uma punição aos policiais envolvidos no caso. “Você já pensou se todo motoqueiro que for alvo de latidos de um cachorro resolver matá-los? O pior é que, logo depois do crime, outros policiais passaram rindo, zombando da morte do Bob”, afirmou.

Bob foi adotado pelos moradores de Heliópolis após a sua dona se mudar para um apartamento. Eles dizem que a mulher afirmou que não haveria espaço para ele na nova casa e deixou o animal na rua.

Richard Wellington da Silva, de 23 anos, que costumava alimentar o cachorro, diz que Bob nunca mordeu ninguém. “Pelo contrário, ele gostava de todo mundo porque era amado. Uma prova desse carinho foi a quantidade de crianças que choraram em volta dele quando ele morreu.”

Leia a matéria completa em: Execução de cão que latia atrás de viatura gera revolta em favela de São Paulo - Geledés http://www.geledes.org.br/execucao-de-cao-que-latia-atras-de-viatura-gera-revolta-em-favela-de-sao-paulo/#ixzz4C1ut6o2h 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Aécio é acusado de financiar deputados

O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou que participou da captação de recursos ilícitos para bancar a eleição do hoje senador Aécio Neves (PSDB-MG) à presidência da Câmara dos Deputados, no ano de 2001. Segundo a delação de Machado na Operação Lava-Jato, ele, Aécio e Teotônio Vilela, à época presidente nacional do PSDB, levantaram recursos financeiros para ajudar cerca de 50 deputados a se elegerem três anos antes, o que teria viabilizado o apoio à eleição de Aécio ao comando da Casa.
http://mobile.valor.com.br/politica/4602325/aecio-e-acusado-de-financiar-deputados

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Com voto 'decisivo' em processo de Cunha, Tia Eron mantém silêncio

Deputada passou o fim de semana na Bahia e não revelou posição.
Aliados e adversários vão disputar chance de votar em caso de ausência.

Deputada Tia Eron (PRB- BA) deixa gabinete da liderança do PRB na Câmara dos Deputados, nesta terça (7) (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)

A deputada federal Tia Eron (PRB-BA) manteve o silêncio durante o fim de semana e continua a ser considerada detentora do “voto decisivo” na análise do processo de cassação do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A votação do parecer do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que recomenda a perda do mandato, está marcada para às 14h30 desta terça (14).
Tia Eron passou o fim de semana na Bahia e não atendeu a telefonemas da imprensa. Aliados e adversários de Cunha dizem que não conseguiram entrar em contato com ela. Por meio de sua assessoria de imprensa, a deputada disse que só falará após a votação, para evitar “especulações”, mas garantiu que vai comparecer ao Conselho de Ética na sessão de terça para votar o parecer.
O placar está apertado entre os que defendem que o peemedebista perca o mandato e os que são contrários a essa punição. Pelos cálculos de adversários de Cunha, se Tia Eron votar contra o relator, que pede a cassação, o placar deverá ficar em 11 votos a 9 a favor do presidente afastado. Essa hipótese leva à derrubada do parecer.
Se ela votar com o relator, o placar ficará empatado em 10 a 10, e o voto de minerva caberá ao presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), que já se disse a favor da cassação.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) disse que tentou, sem sucesso, conversar com Tia Eron na semana passada. “Espero que a Tia Eron vote conosco. Os caras não precisam esperar Eduardo [Cunha] ou a mulher dele [Cláudia Cruz] ser presa. Ele deve virar réu na semana que vem já, no Supremo, pelas contas na Suíça. Meus colegas estão querendo tampar o sol com a peneira”, afirmou.
Cunha é acusado no Conselho de Ética de mentir à CPI da Petrobras quando disse, no ano passado, que não possui contas no exterior. Posteriormente, ele foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal sob a acusação de usar contas mantidas na Suíça para receber dinheiro de propina de contratos da Petrobras. O STF deve decidir na próxima semana se aceita a denúncia e abre ação penal.
Disputa entre suplentes
Se Tia Eron não comparecer à sessão desta terça do Conselho de Ética, quem vota é o suplente do mesmo bloco partidário que primeiro registrar presença.

Segundo o deputado Marcos Rogério, o grupo que defende a cassação de Cunha se organizou para que o deputado Mandetta (DEM-MS), que é suplente da comissão, chegue cedo para tentar registrar presença.
O relator afirmou, porém, esperar que Tia Eron compareça e vote pela cassação. “Se ela votar de acordo com as provas, não tenho dúvida de que será pela cassação”, disse.
Já o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um dos principais aliados de Cunha, disse que também chegará cedo para tentar registrar presença. Ele também é suplente. “Estou convicto de que a punição deve ser menos grave que a cassação. Acho que essa posição vai prosperar”, afirmou.
Renúncia
Uma das estratégias dos aliados de Cunha para convencer os colegas a preservar o mandato do peemedebista é sugerir que ele renuncie à presidência da Câmara. Marun afirmou que conversará com Cunha sobre a possibilidade de ele deixar o comando da Casa, caso a maioria do Conselho de Ética rejeite o relatório de Marcos Rogério.

Se Cunha renunciar à presidência da Câmara, será necessária uma nova eleição para escolher um sucessor. Para o peemedebista, caso consiga manter o mandato, Cunha deve pensar no “bem” da Câmara e evitar que a Casa continue sendo presidida interinamente por Waldir Maranhão (PP-MA), que não conta com apoio nem da base nem da oposição.
"Após o resultado do Conselho de Ética, é possível que eu trabalhe para que ele reavalie sua posição em relação à presidência da Câmara. É possível que eu converse com ele a esse respeito", disse Marun.
"Entendo que, se a Câmara entender que Eduardo Cunha tem o direito de permanecer com seu mandato e exercer sua ampla defesa nessa condição, entendo que ele também deva ter um pensamento mais positivo em relação à Câmara. Maranhão como presidente interino atrapalha a Câmara”, complementou.
fonte: http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/06/com-voto-decisivo-em-processo-de-cunha-tia-eron-mantem-silencio.html

1 mês de governo Temer; 30 retrocessos. Veja a lista

Ontem o governo interino de Michel Temer completou 1 mês. E, como prometido, fui atualizando a lista de retrocessos que aconteceram no país desde então. Confesso que chegou um momento em que passei a atualizar menos, porque meu tempo anda escasso. Além disso, agendei este post na última sexta-feira, então não contém eventuais novidades do fim de semana. Por esses motivos o “ao menos” do título deste post. Porque deve ter acontecido bem mais coisas frustrantes/previsíveis do que estas 30 que eu relacionei. Fique à vontade para acrescentar mais itens aí na parte dos comentários.
Segue a lista que eu fiz:
  • 12/5 – Temer nomeou para ministros pessoas investigadas na Operação Lava Jato e também em outros crimes — demonstrando como o mote de “combate à corrupção”, usado para afastar Dilma do cargo para o qual foi eleita, era balela.
  • Um desses ministros, Romero Jucá, da importante pasta do Planejamento, foi derrubado na segunda semana de governo, porque ficou demonstrado que ele apoiou o impeachment de Dilma para tentar bloquear a Lava Jato, que o investiga. A barganha de cargos também continuou no “novo governo”.
  • 12/5 – Em sua reforma ministerial, Temer cortou uma pasta importante, como já demonstrado aqui no blog (e AQUI), a da Cultura. Foi tão criticado que voltou atrás e recriou o MinC dias depois. Como seu governo só tinha homens — pela primeira vez, desde a era do ditador Geisel (1974-79) –, Temer saiu convidando uma porção de mulheres para ocupar o MinC, mas todas recusaram o convite. Acabou ficando nas mãos de um homem mesmo, sendo este um dos governos menos plurais e representativos dos últimos tempos.
  • Outra importante pasta cortada foi a da Ciência e Tecnologia, o que gerou protestos em universidades de todo o país.
  • De uma canetada só, o novo ministro da Educação “mandou demitir todos os funcionários da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) e oito da Secretaria Executiva”. Desmontou o Fórum Nacional da Educação, “estrutura central para os avanços da educação brasileira”. Veja mais AQUI.
  • 16/5 – Temer revê criação de áreas indígenas e desapropriações de terras, além do Marco Civil da Internet, que incomoda às operadoras de telefonia. Grupos indígenasficaram preocupados.
  • 16/5 – Novo ministro da Justiça já pensa em reduzir a autonomia da Procuradoria Geral da República. Ele recuou do que disse em entrevista, mas ficou registrado…
  • 17/5 – Ministro revoga a construção de 11.250 unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida destinadas a famílias com renda de até R$ 1.800.
  • 17/5 – José Serra, novo ministro das Relações Exteriores, abriu fogo contra os países vizinhos e da África e já chegou ao Itamaraty querendo fechar embaixadas abertas pelo governo Lula. Uma burrice, como se lê nesta breve análise.
  • Pra piorar, Serra abriu fogo contra a OMC, gerando uma crise na diplomacia comercial totalmente desnecessária. Mais informações AQUI e AQUI.
  • 17/5 – Ministros de Temer querem legalizar jogos de azar, como bingos, cassinos e jogos do bicho. O Ministério Público Federal acha que essa medida incentivaria a corrupção e a lavagem de dinheiro.
  • 17/5 – Novo ministro da Saúde já pensa em cortar verbas do SUS e programas importantes, como o Farmácia Popular. Depois recuou do que disse na entrevista, mas também ficou registrado…
  • 17/5 – Advogado de Cunha assume cargo na Casa Civil. Sem comentários.
  • 18/5 – Temer escolhe como líder de seu governo na Câmara André Moura, um cara que responde a seis processos criminais no STF, sendo réu de crimes graves, como apropriação indébita, desvio de bens públicos e até envolvimento em tentativa de homicídio.
  • 20/5 – Governo suspende novas contratações do Minha Casa Minha Vida.
  • 20/5 – Temer exonera presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) nomeado por Dilma, apesar de a legislação prever mandato de 4 anos para ele. Temer quer até mudar a lei para adequar sua decisão. Coloca em seu lugar um jornalista ligado a Eduardo Cunha e a Aécio Neves que já começou censurando a participação de pessoas críticas ao governo Temer em programa jornalístico da TV pública. Dias depois, o STFvolta com o presidente de direito.
  • 23/5 – Governo suspende novas vagas para Pronatec e Fies.
  • 23/5 – Governo quer acelerar privatizaçõesinclusive na área do petróleo. Mais informações AQUI, AQUI e AQUI.
  • 23/5 – Temer prepara reforma trabalhista, que pretende derrubar direitos garantidos há décadas pela CLT.
  • 24/5 – O tão esperado anúncio do pacote de ajuste fiscal do governo Temer, sob a batuta de Henrique Meirelles, nada mais foi que um arrocho social sem grandes efeitos na economia. Ver análise AQUI. A propósito, a reação do (deus) Mercado foi de dúvida.
  • 24/5 – Temer vai abrir a exploração do pré-sal, retirando a obrigatoriedade de ficar nas mãos da Petrobras, o que atinge a soberania nacional e uma das maiores riquezas do país.
  • 25/5 – Alexandre Frota
    Alexandre Frota e Mendonça Filho (DEM).
    Alexandre Frota e Mendonça Filho (DEM).
    foi a primeira “personalidade” a ser recebida pelo novo ministro da Educação. Sem comentários.
  • 30/5 – Temer acabou com a CGU, criou um tal Ministério da Transparência, e pôs lá um sujeitoque, aparentemente, usava seu cargo para obter informações privilegiadas sobre a Lava Jato para seu padrinho, Renan Calheiros. Mesmo após a divulgação dos áudios comprometedores, Temer manteve Silveira no cargo, até não aguentar a pressão e ele ser o segundo ministro derrubado em duas semanas.
  • 31/5 – Temer escolhe o tucano Aloysio Nunes como líder do governo no Senado. Que, aliás, também é investigado por corrupção. E ajuda a fortalecer o PSDB no poder. Os tucanos estão mais fortes no governo Temer. Isso, pra mim, já é um retrocesso por si só.
  • 2/6 – Pedro Parente toma posse na Petrobras. Veja AQUI o que esperar dele.
  • 2/6 – Ficamos conhecendo a nova secretária de Política para Mulheres. Justo neste momento em que a pauta da cultura do estupro e da violência contra as mulheres volta à tona, Fátima Pelaes tem ESTAS idéias retrógradas, que geraram indignação. Pra piorar, ela é investigada por desvio de dinheiro público.
  • 2/6 e 10/6 – A ideia não era Temer salvar o país da crise econômica? Apertar os cintos? Mas a primeira medida que o Congresso aprovou, com aval do presidente interino, foi o reajuste que gerará desfalque de R$ 58 bilhões aos cofres públicos. Veja detalhes sobre a pauta-bomba AQUI. Em 20 dias, o rombo aumentou 35%. No dia 10, ele anunciou corte de cargos que gerará economia de R$ 230 milhões – ou seja, não faz nem cócegas no rombo que ele próprio ajudou a criar.
  • 2/6 – Temer faz mudanças questionáveis no IBGE e Ipea, institutos que lidam com dados confidenciais de interesse nacional.
  • 3/6 – Área de inteligência do governo está monitorando um partido político. Qual precedente isso abre?
  • 6/6 – Mais um ministro de Temer é vinculado a corrupção da Lava Jato: Henrique Alves, do Turismo.
FONTE: https://kikacastro.com.br/2016/06/13/1-mes-governo-michel-temer-30-retrocessos/

sexta-feira, 10 de junho de 2016

TCU entrega à Justiça lista de 6.738 gestores com contas irregulares

Tribunais deverão analisar se candidatos poderão concorrer nas eleições.
Casos são de omissão ao prestar contas e danos ou desfalques ao erário.
O Tribunal de Contas da União (TCU) disponibilizou nesta quinta-feira (9) à Justiça Eleitoral uma lista de 6.738 gestores públicos que tiveram contas consideradas irregulares em processos de fiscalização na aplicação de recursos públicos federais.
Com a lista, os tribunais eleitorais poderão rejeitar a candidatura daqueles que pretendem concorrer nas eleições municiais deste ano, conforme prevê a Lei da Ficha Limpa.
Os gestores, pertencentes a órgãos públicos das esferas municipal, estadual e federal, foram condenados por motivos como omissão na prestação de contas, desobediência a normas de licitações, dano ou desfalque ao erário, por exemplo.
A lista entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contém casos de contas analisadas em 10.411 processos cuja decisão já não pode mais ser revertida junto ao TCU por meio de recursos.
Os nomes se referem a julgamentos concluídos nos últimos 8 anos, período em que gestores com contas irregulares ficam inelegíveis, após análise do registro de candidatura pela Justiça Eleitoral. Com base na lista, o Ministério Público, os partidos e os próprios candidatos adversários poderão propor ações aos tribunais para derrubar as candidaturas desses gestores que tiveram as contas consideradas irregulares.

Segundo a Lei da Ficha Limpa, ficam inelegíveis por oito anos aqueles com contas rejeitadas por irregularidade insanável e que configure ato doloso de improbidade administrativa (mau uso de recursos públicos) e por decisão irrecorrível.

Após receber a lista, o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, ressaltou que, pelo calendário eleitoral, a lista foi entregue antes do prazo previsto, no dia 5 de julho. Com isso, os tribunais ganham mais tempo para analisar os registros de candidatura.

“Pela primeira vez estamos tendo a condição de ter essa lista de forma antecipada, é um ganho em termos funcionais e de logística para toda a Justiça Eleitoral”, afirmou. O ministro afirmou que o número é significativo, mas lembrou que nem todos os gestores, necessariamente, serão candidatos.
“Pela primeira vez estamos tendo a condição de ter essa lista de forma antecipada, é um ganho em termos funcionais e de logística para toda a Justiça Eleitoral”, afirmou. O ministro afirmou que o número é significativo, mas lembrou que nem todos os gestores, necessariamente, serão candidatos.
fonte: http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/noticia/2016/06/tcu-entrega-justica-lista-de-6738-gestores-com-contas-irregulares.html

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Filha de Eduardo Cunha na mira da Lava Jato

POR JULIA AFFONSO, MATEUS COUTINHO, RICARDO BRANDT E FAUSTO MACEDO
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução ESTADÃO
A filha do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) continuará sendo investigada, segundo informou a força-tarefa da Operação Lava Jato nesta quinta-feira, 9. Danielle Dytz da Cunha Doctorovich é suspeita de ser beneficiária da conta Kopek, cuja titularidade é atribuída à jornalista Cláudia Cruz, sua madrasta e mulher de Eduardo Cunha.
“As investigações prosseguirão em relação a Daniele Ditz, filha de Eduardo Cunha, e a outros investigados, Jorge Reggiardo e Luis Pittaluga, que atuaram como operadores para abertura da conta Netherton”, aponta a Procuradoria da República.
Em março, Danielle Dytz e Cláudia Cruz tentaram se esquivar do juiz federal Sérgio Moro, símbolo da Lava Jato. Seus advogados pediram ao Supremo Tribunal Federal que rejeitasse pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de desmembramento do processo contra o presidente afastado da Câmara, e mantivessem a investigação contra a filha e a mulher de Cunha na Corte máxima. O STF não aceitou e mandou a apuração para a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
Os advogados Fernanda Tórtima e Ademar Borges, na ocasião, afirmaram: ‘não há dúvida de que (Danielle) é investigada pelos mesmos fatos atribuídos a seu pai e a sua madrasta – a saber, a suposta manutenção de conta não declarada no exterior, fato que, por si só, atrai a incidência do inciso I do artigo 77 do Código de Processo Penal, sendo de rigor a unicidade processual’.
A defesa sustentou que ‘basta que se veja que a ora peticionária (Danielle) é apenas indicada como beneficiária da conta Kopek, cuja titularidade é atribuída a sua madrasta, e que teria sido, segundo a acusação, alimentada com valores transferidos a partir de outras contas controladas por seu pai’.
Nesta quinta-feira, Cláudia Cruz tornou-se ré pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas envolvendo valores provenientes do esquema de corrupção instalado na Diretoria Internacional da Petrobrás. A ação penal proposta na última segunda-feira, 6, foi recebida integralmente nesta quinta-feira, 9, pelo juiz federal Sérgio Moro.
As investigações apontaram que Cláudia ‘tinha plena consciência dos crimes que praticava e é a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior em montante superior a US$ 1 milhão num prazo de sete anos (2008 a 2014), valor totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito de seu marido’. Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek (99,7%) teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha.
Segundo a Procuradoria, as contas de Eduardo Cunha no exterior eram usadas para, em segredo a fim de garantir sua impunidade, receber e movimentar propinas, produtos de crimes contra a administração pública praticados pelo deputado hoje afastado da presidência da Câmara. Por meio da mesma conta Köpek, Cláudia Cruz teria se favorecido de parte de valores de uma propina de cerca de US$ 1,5 milhão que o marido teria recebido para “viabilizar” a aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.
COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA PIERPAOLO BOTTINI
Claudia Cruz responderá às imputações como fez até o momento, colaborando com a Justiça e entregando os documentos necessários à apuração dos fatos. Destaca que não tem qualquer relação com atos de corrupção ou de lavagem de dinheiro, não conhece os demais denunciados e jamais participou ou presenciou negociações ilícitas.
FONTE: http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/filha-de-eduardo-cunha-na-mira-da-lava-jato/

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Guia das bibliotecas públicas do estado de SP

Bibliotecas públicas da Secretaria de Estado da Cultura

Imagem do interior do prédio da Biblioteca Latino-Americana Victor Civita, no Memorial da América Latina
Algumas instituições vinculadas à Secretaria da Cultura, do Governo do Estado de São Paulo, possuem bibliotecas abertas ao público. Caso tenha interesse em algum tema, entre em contato diretamente com a biblioteca para verificar o regulamento de consulta ao acervo, horários de funcionamento e obter outras informações relevantes.
acesse o link abaixo e veja:

17 governadores pedalaram impunemente... É Golpe mesmo!

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A adoção de malabarismos contábeis em que se baseou o pedido de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, não é exclusividade do governo federal. A Agência Pública analisou pareceres prévios dos Tribunais de Contas dos estados (TCEs), votos de alguns de seus conselheiros e manifestações dos Ministérios Públicos de Contas (MPCs) de 20 unidades da Federação, entre 2013 e 2014, e concluiu que, na interpretação geral do conceito, pelo menos 17 governos teriam praticado pedaladas fiscais.
Por não se tratar de um termo técnico, é difícil cravar o que é ou não uma pedalada fiscal. De forma geral, as pedaladas são “mecanismos utilizados pelo governo para maquiar as contas públicas” – como definiu o conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Ceará, Paulo César de Souza, na declaração de voto sobre as contas estaduais de 2014. Nos documentos examinados pela Pública foram encontrados três tipos desses mecanismos: a abertura de créditos adicionais de forma irregular, a maquiagem da meta fiscal e o cancelamento de empenhos liquidados.
Segundo análises de MPCs, de auditorias técnicas dos TCEs e de manifestações de conselheiros dos tribunais, foram detectados problemas na abertura de créditos adicionais na contabilidade de nove governadores: Rosalba Ciarlini (DEM-RN), Roseana Sarney (PMDB-MA), Ricardo Coutinho (PSB-PB), Tarso Genro (PT-RS), Beto Richa (PSDB-PR), Siqueira Campos (PSDB-TP), Sandoval Cardoso (SD-TO), Sergio Cabral (PMDB-RJ), Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), Antonio Anastasia (PSDB-MG), Alberto Pinto Coelho (PP-MG), e Silval Barbosa (PMDB-MT). Em alguns casos, pela ausência de autorização legislativa – o que foi apontado como pedalada no caso da presidente, que agiu sem autorização prévia do Congresso; em outros, pela inexistência de um limite para os créditos adicionais.
A segunda pedalada consiste na violação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) através da maquiagem das contas públicas para forjar o cumprimento das metas fiscais do governo ou através da aprovação irregular de Leis Orçamentárias Anuais (LOAs). Assim como Dilma, acusada de omitir o passivo da contabilidade oficial, teriam incorrido nesta prática os governadores Cid Gomes (PDT-CE), Marconi Perillo (PSDB-GO), Sergio Cabral (PMDB-RJ), Silval Barbosa (PMDB-MT) e Antonio Anastasia (PSDB-MG).
O “cancelamento de empenhos liquidados”, um termo complicado para explicar o popular “calote”, também é uma forma de pedalar. O procedimento consiste em retirar das contas públicas o registro de despesas sobre serviços já efetuados ou produtos já entregues, sem pagar prestadores e fornecedores. Uma infração ao artigo 42 da LRF, que proíbe a prática para evitar, em ano eleitoral, que resultados artificiais na contabilidade gerem um rombo para os sucessores. Teriam cancelado empenhos já liquidados os governadores Eduardo Campos (PSB-PE), Raimundo Colombo (PSD-SC), Alberto Pinto Coelho (PP) e Renato Casagrande (PSB-ES).
O atraso de repasses a bancos públicos responsáveis por pagamentos de programas sociais, como o Bolsa Família, ou de linhas de financiamento, como o Plano Safra, é apontado como a pedalada mais grave do governo Dilma. As instituições financeiras teriam amargado meses de “pendura”, o que configuraria um empréstimo – e como tal, ilegal. Mas, embora não envolvam bancos estatais, manobras semelhantes teriam sido praticadas por Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Agnelo Queiroz (PT-DF).
Ao contrário de Dilma, porém, que em 2015 teve suas contas rejeitadas por unanimidade pelo Tribunal de Contas da União (TCU), as cortes estaduais foram bem menos rigorosas no julgamento dos governadores. Nenhum deles teve a contabilidade reprovada, apesar de manifestações neste sentido por parte de alguns conselheiros solitários e dos Ministérios Públicos de Contas.
Dois pesos, duas medidas
Relator do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Senado Federal, Antonio Anastasia (PSDB-MG) teve as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas de Minas Gerais apesar de irregularidades cometidas no exercício de 2014. Não apenas por ele mas também pelo vice Alberto Pinto Coelho (PP) – que assumiu quando o tucano renunciou, em abril, para concorrer ao cargo de senador. Entre os problemas na gestão mineira, está a abertura de créditos suplementares de valor superior ao dobro do permitido na Lei Orçamentária Anual (LOA), alcançando um montante R$ 15,51 bilhões.
Além disso, como apontou o MP de Contas, irregularidades na própria LOA caracterizariam a abertura ilimitada de créditos adicionais, o que é proibido pela Constituição. Outro problema encontrado no estado foi o cancelamento de empenhos liquidados nos últimos oito meses de mandato, uma espécie de maquiagem de R$901,4 milhões. O artigo 42 da LRF proíbe o “pendura” de contas para o primeiro ano do mandato seguinte sem a devida dotação orçamentária. Ainda assim, os conselheiros do TCE-MG aprovaram as contas de Anastasia. No entendimento deles, tudo não passou de “impropriedades e faltas de natureza formal” sem dano aos cofres públicos.
No Paraná, o governador Beto Richa (PSDB) também apresentou uma LOA com irregularidades que permitiriam a abertura de créditos ilimitadas, como foi ressalvado na aprovação de suas contas pelo TCE. A irregularidade mais grave, porém, de acordo com o MP de Contas, foi a pedalada na meta fiscal praticada pelo governador. A Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2014 previa um superávit primário de R$ 2,3 bilhões, que acabou se convertendo em um déficit de R$ 177 milhões. Para deixar o resultado na legalidade, o governo conseguiu, com o apoio do Poder Legislativo, reduzir em incríveis R$ 3,5 bilhões a meta de resultado primário em 2015 – e, assim, cumpri-la. Chama atenção no texto do parecer prévio aprovado pela corte de contas paranaense, que negou veementemente que o governador tenha pedalado, um trecho destacando especificamente que as manobras do governador “em nada se parecem ou se assemelham” com aquelas de Dilma Rousseff.
No Rio Grande do Norte, o conselheiro Carlos Thompson Fernandes apontou irregularidades nas contas da governadora Rosalba Ciarlini (DEM) referentes ao exercício de 2013 utilizando argumentos semelhantes ao do parecer de Anastasia sobre as contas de Dilma. “Restou demonstrada a abertura de créditos adicionais suplementares e créditos adicionais especiais sem autorização legislativa. (…) Tal prática, que configura a utilização de créditos ilimitados, (…) incorre no crime de responsabilidade contra a lei orçamentária do art. 10, item 6, da Lei n 1.079/1950 [a Lei do Impeachment]”, escreveu o conselheiro. Somados os dois tipos de créditos – suplementares e especiais –, o valor alcançado foi de R$ 1,097 bilhão.
Apesar do voto de Thompson, a contabilidade de Rosalba foi aprovada com recomendações e ressalvas – espécies de “puxões de orelha” que se repetem anos a fio sem quaisquer consequências ou punições aos gestores.
No Maranhão, também em 2013, a governadora Roseana Sarney (PMDB) também abriu créditos suplementares sem a autorização do Poder Legislativo, de acordo com o Ministério Público de Contas. O valor das movimentações, de R$ 6,4 bilhões, supera o autorizado na Lei Orçamentária Anual, o que é vedado pela LRF. Embora o relator do julgamento pelo Tribunal de Contas, conselheiro Álvaro Ferreira, tenha incorporado as observações do MP, não há menção ao fato no texto final, que aprovou a contabilidade da peemedebista. No parecer prévio constam apenas recomendações gerais ao governo.
Na Paraíba, em 2014, Ricardo Coutinho (PSB) abriu créditos extraordinários de R$ 378,7 mil por meio de medida provisória, portanto sem prévia autorização legislativa. Além disso, apontaram os auditores do Tribunal de Contas do estado, a Constituição Federal só permite a abertura de tais créditos em casos “imprevisíveis e urgentes, a exemplo daquelas ocasionadas por guerra, comoção interna ou calamidade pública”. Somada a outras irregularidades, como o descumprimento dos investimentos mínimos constitucionais em saúde e educação, a pedalada levou o MP de Contas a emitir parecer contrário à aprovação das contas de Coutinho. O Tribunal de Contas da Paraíba multou o governador em R$ 7 mil, mas findou por aprovar a contabilidade.
No Rio Grande do Sul, de acordo com o relatório do corpo técnico do Tribunal de Contas de 2014, Tarso Genro (PT) contrariou a Lei de Finanças Públicas (Lei 4.320 de 1964) que estabelece: “a abertura dos créditos suplementares e especiais depende da existência de recursos disponíveis”, proveniente de fontes como o “excesso de arrecadação”. Os decretos assinados pelo petista se embasaram em “previsão de arrecadação” – o que não passa de uma “suposição”, como apontou o relatório.
Por este e outros motivos – entre os quais a criação de obstáculos à devida análise da contabilidade –, o MP de Contas opinou pela emissão de parecer prévio desfavorável às contas, mas elas acabaram aprovadas por unanimidade pelos conselheiros do TCE-RS.
Outro que foi vencido pela maioria dos colegas, o conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Ceará, Paulo César de Souza, votou pela reprovação das contas de 2014 de Cid Gomes (PDT). Entre os principais motivos, está a metodologia utilizada pelo governo estadual para demonstrar o atingimento de superávit primário de R$ 347,7 milhões naquele ano, quando outra metodologia – definida no Manual de Demonstrativos Fiscais da Secretaria do Tesouro Nacional – resultaria em um déficit primário de R$ 1,5 bilhão.
“Não há que se falar em cumprimento das metas estabelecidas se o próprio cálculo da meta não é claro ou não traduz a realidade”, frisou Souza. Uma comissão técnica do Tribunal de Contas do Ceará apontou ainda o emprego de metodologias semelhantes no Maranhão e em Pernambuco, além do governo federal.
Em Pernambuco, ainda na gestão do falecido governador Eduardo Campos (PSB), o cancelamento de 678 empenhos liquidados no apagar das luzes de 2013 fez com que $ 395,2 milhões de despesas sumissem da contabilidade estadual. Com isso, a diferença entre receitas e despesas – chamada de resultado primário – teve um ligeiro alívio, sendo o déficit resultante reduzido de cerca de R$ 1,5 bilhão para R$ 1,2 bilhão. Campos foi outro que teve as contas aprovadas sem quaisquer ressalvas – defendidas por dois dos cinco conselheiros. O argumento para não ressalvar a chancela às contas consiste em dizer que a manipulação foi feita por um misterioso usuário não identificado, o CTB-BACTH, e não pelo governador.
Já as contas de 2014 do governador catarinense Raimundo Colombo (PSD) foram aprovadas, mas com ressalvas pelo descumprimento de metas de resultado primário, além daquelas de despesa total, nominal e da dívida consolidada líquida, “revelando um planejamento orçamentário não condizente com uma política de gestão fiscal responsável”. Tal qual em Pernambuco, o cancelamento de despesas liquidadas em Santa Catarina, “sem controle que possibilite a transparência do procedimento”, na ordem de R$ 1,3 bilhão, foi apontado com prejudicial à confiabilidade dos dados contábeis apresentados pelo governo.

O Artigo 42
Outro ponto grave apontado na contabilidade dos governadores Beto Richa e de Cid Gomes foi a falta de demonstração clara do cumprimento do artigo 42 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que impede o descontrole dos gastos nos últimos meses de mandato. “Para a [conselheira] relatora, o desvio da norma do art. 42 imporia a rejeição das contas. Todavia, considerou que a omissão de dados e informações impede esse desfecho. Com as vênias devidas, não concordo”, pontuou o conselheiro Souza em seu voto pela condenação das contas do Ceará. “A omissão em fornecer dados pode servir para encobrir descumprimento da norma e, consequentemente, evitar as sanções legais. (…) Ou seja, todas as vezes que houver fuga da norma, basta a negativa de entrega dos dados para que o órgão fiscalizador fique inoperante”, protestou.
O artigo 42 da LRF também está no centro do debate sobre as pedaladas de Marconi Perillo (PSDB-GO). O governador teve a contabilidade posta em xeque pelo MP de Contas devido ao rombo de R$ 1,49 bilhão na conta centralizadora do estado de Goiás – que agrupa 120 contas de secretarias, agências, fundações, autarquias, estatais, fundos especiais e empresas públicas. Embora o “empréstimo” pelo Tesouro goiano seja permitido excepcionalmente, somente em 2014 – ano em que Perillo se reelegeu – o saldo negativo foi aumentado em R$ 633,9 milhões. Além disso, o estado deixou de distribuir R$ 149 milhões de rendimentos a diversos órgãos e entidades, elevando a dívida do Tesouro para com a conta centralizadora para R$ 1,6 bilhão.
O corpo técnico do Tribunal de Contas estadual apontou que, embora o tucano tenha cumprido as determinações do artigo 42, o feito só se deu pela apropriação dos recursos da conta centralizadora e de seu “catastrófico aprofundamento” em 2014. Para os auditores do TCE, desconsiderada a pedalada, Perillo teria incorrido em “flagrante descumprimento” do artigo 42 e em crime contra as finanças públicas. O entendimento dos conselheiros do Tribunal foi outro, entretanto, e a contabilidade do governo estadual foi aprovada com ressalvas. Mas a independência da corte de contas foi questionada recentemente, após a divulgação de uma conversa que mostra uma espécie de aliança entre Perillo e o conselheiro Edson Ferrari.
A análise das contas de Luiz Fernando Pezão e Sérgio Cabral (PMDB-RJ) de 2014 pelos auditores do TCE do Rio de Janeiro concluiu que o artigo 42 da LRF foi descumprido em R$ 1 bilhão devido a despesas contraídas nos últimos meses do exercício sem que houvesse a necessária disponibilidade financeira. O rombo também acarretou no descumprimento das metas de resultado primário e nominal. O governo alegava ter alcançado R$ 122,7 milhões de superávit, mas subtraídas as despesas irregulares o resultado se revelou, na verdade, um déficit de R$ 878 milhões.
O corpo técnico do TCE-RJ apontou ainda descumprimento às normas do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, da Secretaria do Tesouro Nacional, o que pode ser considerado como tentativa de maquiagem das contas públicas. “Os fatos apurados demonstram que os resultados dos demonstrativos contábeis e fiscais encaminhados a essa Corte, e divulgados para a sociedade, não são fidedignos, uma vez que os valores das obrigações assumidas pelo governo não espelham a realidade”, diz o texto.
O governo do Rio de Janeiro também utilizou artifícios na Lei Orçamentária Anual para abrir créditos adicionais ilimitados em áreas específicas, como pagamento de pessoal, encargos sociais, inativos, pensionistas, entre outras. “Desta forma, se está permitindo a abertura ilimitada de créditos suplementares, podendo o orçamento inicial aprovado ser totalmente alterado sem que haja necessidade de nova autorização legislativa”, diz o relatório, que conclui ter havido desrespeito à Constituição Federal. Apesar da recomendação técnica pela emissão de parecer prévio contrário às contas, a Corte de contas foi unânime em aprová-las.
“Empréstimos”
Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) pedalou em R$332,73 milhões com recursos do Metrô – como revelou em abril o jornal Valor –, ao deixar de repassar para a companhia estatal os valores correspondentes à compensação tarifária, entre 2011 e 2014. Após a publicação da notícia, o Tribunal de Contas de São Paulo, que não havia registrado a manobra – pelo menos não nos pareceres prévios referentes aos exercícios de 2013 e 2014 –, solicitou então informações ao governo estadual sobre o caso, que poderá ser abordado nas contas de 2015.
Alckmin não foi o único a fazer espécies de empréstimos dentro do próprio governo. No Distrito Federal, o governador Agnelo Queiroz (PT) – cujos sucessivos recursos impediram, até o momento, o julgamento das contas de 2014 – teve a contabilidade de 2013 aprovada com ressalvas. O TC-DF apontou que não foi investido um real sequer em seis dos 30 fundos setoriais – de apoio à pesquisa, ao esporte, de fomento à indústria, entre outros. Treze fundos tiveram ainda execução reduzida, inferior à metade do que havia sido disponibilizado.
Além disso, no encerramento do exercício financeiro daquele ano, o governo determinou que os saldos não utilizados pelos fundos até 26 de dezembro fossem devolvidos, o que afronta a Lei de Finanças Públicas. Ela determina que, salvo determinação em contrário, os recursos remanescentes devem ser mantidos no mesmo fundo no ano seguinte. Somente o Fundo de Apoio à Pesquisa foi ressalvado da aprovação das contas. O TCE recomendou ao governo reavaliar a necessidade e viabilidade dos demais.
O Tribunal de Contas do DF também ressalvou da aprovação o descumprimento da meta de resultado primário previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2013. Inicialmente superavitária em R$ 10 milhões, ela foi reduzida, dentro do exercício, para um déficit de R$ 510 milhões. Ainda assim, o governo não conseguiu atingi-la, terminando o ano no vermelho em R$ 1,2 bilhão – pior resultado no DF, até então, frisou o TC-DF, desde a edição da LRF, em 2000.
No Espírito Santo, o MP de Contas se manifestou pela emissão de parecer prévio contrário à contabilidade de 2014 de Renato Casagrande (PSB). O órgão considerou que houve uma pedalada de R$531,8 milhões nos recursos para a manutenção e desenvolvimento do ensino, montante realocado para o pagamento de benefícios previdenciários a servidores públicos inativos e pensionistas. Com a espécie de empréstimo, o governo acabou por não cumprir o investimento mínimo em educação previsto na Constituição Federal.
Além disso, o MPC-ES também apontou a realização de despesas sem prévio empenho na ordem de R$ 300 milhões, além do cancelamento indevido de empenhos, levando a imprecisões e irregularidades nos demonstrativos fiscais do governo, “além de impossibilitar o conhecimento da real disponibilidade de caixa do Estado ao final do exercício financeiro de 2014”. A manobra também teria empurrado despesas para o exercício seguinte. O TCE-ES, entretanto, se manifestou de forma unânime pela aprovação de parecer prévio favorável às contas.
Tocantins, Mato Grosso e Bahia
No Tocantins, a Lei Orçamentária Anual para 2014, de responsabilidade do governador Siqueira Campos (PSDB), foi criticada pelos auditores do TCE por apresentar limites para a abertura de créditos suplementares apenas para parte das despesas, contrariando a Constituição Federal. Não foram estabelecidos limites para suplementação de gastos com convênios, amortização da dívida, pessoal e encargos, entre outros. Campos e o vice renunciaram em consequência de articulações eleitorais, tendo sido Sandoval Cardoso (SD), então presidente da Assembleia Legislativa, eleito para o comando estadual por meio de uma eleição indireta. Os auditores apontaram que, ao contrário do que indicou o governo, não havia disponibilidade de caixa para honrar todas as despesas dos últimos meses de mandato. Apesar de o Poder Executivo alegar disponibilidade de caixa líquida, ao final do exercício, de R$ 431,2 milhões, se incluídas as despesas “esquecidas”, de R$ 681,1 milhões, o valor na verdade seria negativo em R$250 milhões.
Silval Barbosa (PMDB), governador do Mato Grosso, foi outro cuja Lei Orçamentária Anual, em 2014, não estipulou limites para a abertura de créditos adicionais em determinados setores, o que “significa um verdadeiro ‘cheque em branco’”, conforme pontuou o MP de Contas de Mato Grosso. “Na prática, houve uma subversão das regras constitucionais e legais das regras do processo orçamentário”, diz ainda o parecer da instituição sobre os R$1,13 bilhão.
Além disso, os dados entregues pelo governo mato-grossense confundiram os auditores do TCE-MT quanto ao cálculo do superávit financeiro. De um documento para outro, o montante saltou de R$ 950 milhões para R$ 4,8 bilhões. “Note-se que não se trata de mera disparidade formal. (…) Isso sinaliza que os créditos adicionais foram abertos sem uma referência segura de recursos para custeá-los, o que, por si só, já implica desobediência das normas relativas ao equilíbrio financeiro”, repudiou o MP de Contas, que votou contra a aprovação da contabilidade de Silval Barbosa. O TCE, contudo, promoveu a aprovação sem ressalvas, apenas com recomendações.
A auditoria do TCE da Bahia apurou que o governo Jaques Wagner (PT) não computou na despesa com pessoal de 2014 um total de R$ 228,3 milhões referentes a despesas com prestadores de serviços temporários e ao desconto indevido de parte do 13º salário de 91.743 servidores, o que teria ocorrido por falha no processamento da folha de pagamento. Caso tivesse sido incluído, o montante oculto elevaria as despesas com pessoal do Poder Executivo de 45,48% para 46,36% da Receita Corrente Líquida. Com isso, o estado ultrapassaria o limite de alerta previsto na LRF (46,17%), apontou a auditoria, e sofreria uma série de restrições, como a proibição de criação de cargos, de concessão de aumentos a servidores (com algumas poucas exceções) e contratação de horas extras.

Exceções
Embora tenham desrespeitado pontualmente a LRF, não é possível afirmar que alguns governadores tenham pedalado, uma vez que não houve maquiagem de dados contábeis, abertura de créditos adicionais sem autorização legislativa ou em valor superior ao permitido, ou ainda a tomada de “empréstimo” de fundos e empresas estatais. É o caso de Simão Jatene (PSDB-PA), Jackson Barreto (PMDB-SE), e José Melo (Pros-AM). Apesar disso, o pouco rigor dos Tribunais de Contas pode ser percebido em alguns casos, como em Sergipe.
Eleito vice, Jackson Barreto assumiu o governo em dezembro de 2013, após a morte do então governador Marcelo Déda (PT). O peemedebista teve as contas aprovadas com ressalvas pelo TCE. A Corte puxou a orelha do Executivo estadual pela manutenção de elevados gastos com pessoal, desde 2011, em patamar superior ao limite prudencial da LRF. Em 2014, o montante de despesas com a folha de pagamento do Poder Executivo alcançou 48%. Foi quando o TCE finalmente se manifestou com maior rigor, ameaçando reprovar a contabilidade estadual nos exercícios seguintes caso não sejam adotadas medidas efetivas para sanar o problema.
No Amazonas, embora não tenham sido identificadas pedaladas nas contas de Omar Aziz (PSD) e José Melo (Pros-AM), com base na auditoria e no parecer prévio do Tribunal de Contas, a Lei Orçamentária Anual aprovada pelo primeiro e executada principalmente pelo segundo – Aziz renunciou em abril para concorrer ao Senado Federal – chama a atenção pela generosíssima margem de realocação de recursos estipulada, de até 40% do orçamento inicial. Assim, por mais que ao final do exercício o Executivo tenha aberto R$ 4,6 bilhões de créditos suplementares, representando 31,48% do que fora inicialmente previsto na LOA, não houve irregularidade.
Em algumas unidades da Federação, o ritmo de apreciação das contas pelos tribunais é tão lento que mandatos chegam ao fim sem que se saiba como o dinheiro público foi gerido na maior parte do tempo. São os casos do Piauí, cujo último ano em que houve elaboração de parecer prévio pelo TC foi 2012, e de Rondônia (2011). Além disso, a reportagem não teve resposta sobre os pedidos de documentação relativa às contas de Mato Grosso do Sul, Roraima, Acre, Alagoas e Amapá.
fonte: http://www.conversaafiada.com.br/politica/17-governadores-pedalaram-impunemente