Cristiano Paz, Ramon Hollerbach, Simone Vasconcelos, Vinicius Samarane, José Roberto Salgado, Kátia Rabelo, Jacinto Lamas, João Claudio Genu e Enivaldo Quadrado são personagens quase anônimos e, naturalmente, sem foro privilegiado; réus da Ação Penal 470, foram julgados diretamente pelo Supremo Tribunal Federal, ao contrário de Eduardo Azeredo, que renunciou ao mandato; segundo Gilmar Mendes, todos faziam parte de uma "teia", diferentemente do chamado "mensalão tucano"; mas como existe a teia se não houve formação de quadrilha?; castelo de cartas de Joaquim Barbosa ruiu e recurso à Corte Interamericana de Direitos Humanos se faz urgente e necessário
segunda-feira, 31 de março de 2014
DILMA: “POR 21 ANOS NOSSOS SONHOS FORAM CALADOS”
Em discurso em Brasília, presidente afirmou que "o dia de hoje exige que nos lembremos e contemos o que aconteceu", ao se referir ao golpe militar de 1964; "Devemos isso a todos os que morreram e desapareceram, aos torturados e perseguidos, às suas famílias, a todos os brasileiros"; Dilma Rousseff, ela própria presa e torturada durante a ditadura, disse que "por 21 anos, nossa liberdade, nossos sonhos foram calados", mas relembrou de "todos os processos de manifestação e democracia que temos vivido ao longo das últimas décadas"
31 DE MARÇO DE 2014 ÀS 13:10
247 – A presidente Dilma Rousseff afirmou, em discurso em Brasília, que "o dia de hoje exige que nos lembremos e contemos o que aconteceu", numa referência aos 50 anos do golpe militar de 1964. "Devemos isso a todos que morreram e desapareceram, aos torturados e perseguidos, a suas famílias, a todos os brasileiros", disse a presidente. Dilma fez as declarações durante assinatura do contrato para construção da ponte sobre o rio Guaíba, do Rio Grande do Sul.
"Lembrar e contar faz parte de um processo muito humano, desse processo que iniciamos com as lutas do povo brasileiro, pela anistia, Constituinte, eleições diretas, crescimento com inclusão social, Comissão Nacional da Verdade, todos os processos de manifestação e democracia que temos vivido ao longo das últimas décadas. Um processo que foi construído passo a passo, durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura", prosseguiu a presidente.
Dilma, que foi presa e torturada durante a ditadura militar, lembrou que 50 anos atrás o Brasil deixou de ser um país de instituições ativas, independentes e democráticas e que "por 21 anos, nossa liberdade, nossos sonhos foram calados", mas que graças ao esforço de todas as lideranças do passado, dos que vivem e dos que morreram, foi possível ultrapassar os anos de ditadura.
Segundo ela, o Brasil aprendeu o valor da liberdade, de Legislativo e Judiciário independentes e ativos, da liberdade de imprensa, do voto secreto, de eleger governadores, prefeitos, um exilado, um líder sindical, que foi preso várias vezes, e uma mulher também que foi prisioneira. "Aprendemos o fato de ir às ruas e mostramos um diferencial quando as pessoas foram às ruas demandar mais democracia. Aqui não houve processo de abafamento desse fato", disse.
"A grande Hanna Arendt escreveu que toda dor humana pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história. As cicatrizes podem ser suportadas e superadas, porque hoje temos uma democracia, podemos contar nossa história. Nesse Palácio, dois anos atrás, quando instalamos a Comissão Nacional da Verdade, eu disse que se existem filhos sem pais, pais sem túmulos, nunca mesmo pode existir uma história sem voz. E o que dará voz à história são os homens e mulheres livres sem medo escrevê-la. Quem dá voz à história somos nós", concluiu Dilma.
fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/135092/Dilma-%E2%80%9Cpor-21-anos-nossos-sonhos-foram-calados%E2%80%9D.htm
50 ANOS DE 1964 DESPERTAM LOBOS EM ‘DEMOCRATAS’
Cinquentenário do golpe militar de 1º de abril extrai verdades existentes dentro de personagens emblemáticos; colunista Arnaldo Jabor, da Rede Globo, afirmou que País "mereceu" quebra da democracia; ex-presidente Fernando Henrique comparou presidente Dilma Rousseff a Jango Goulart, dando pitaco pela desestabilização do governo; ex-governador Paulo Egydio relatou a Geneton Moraes Neto caso de tortura e chantagem sobre o qual lavou as mãos em nome com combate "ao comunismo"; ex-deputado Célio Borja negou ter havido uma ditadura, mas apenas "um governo com plenos poderes"; jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo evitaram qualquer autocrítica sobre apoio editorial – e logístico, no caso da Folha – dado ao golpe; blogueiro Reinaldo Azevedo escreveu, como era esperado, que a culpa foi da esquerda; faltou propor beatificação de militares
31 DE MARÇO DE 2014 ÀS 11:17
247 – O aniversário de 50 anos do golpe militar de 1º de abril de 1964 mostrou os lobos que existem dentro de personagens que se classificam como democratas.
Um dos primeiros a surpreender em sua compreensão pelo movimento que quebrou o ciclo democrático por 21 anos, cassou 174 parlamentares, extinguiu partidos políticos, perseguiu, torturou e matou militantes de organizações democrática e de esquerda foi o colunista Arnaldo Jabor, da Rede Globo. Polemista com verniz de liberal, ele escreveu que "merecemos" o estado de exceção que as Forças Armadas impuseram ao País. Para ele, as organizações populares não tinham compromisso com a democracia, mas apenas em tomar o poder.
Seguiu também pela linha de culpar o público pelo golpe o blogueiro Reinaldo Azevedo, que tirou de seu saco de maldades o argumento clássico dos golpistas. Ventríloquo da direita, Azevedo cravou que muitos dos apoiadores do presidente João Goulart queriam "implantar uma ditadura comunista no Brasil". As eleições presidenciais marcadas para 1965, como o então pré-candidato Juscelino Kubistchek como favorito, ele, é claro, nem fez questão de mencionar.
Membro da Universidade de São Paulo em 1964, tendo sido cassado do cargo de professor anos depois, o ex-presidente Fernando Henrique deu uma derrapada ao falar sobre o tema. Com o intuito de desgastar a presidente Dilma Rousseff, ela a comparou a Jango, primeira vítima do golpe militar. Pelo mau gosto do paralelo, o que ficou foi um pitaco de FHC na direção da desestabilização do governo. Após Jango, afinal, veio o caos – e foi essa suspeita que ex-presidente deixou no ar.
Visto como um quase democrata, o ex-governador de São Paulo Paulo Egydio Martins revelou ao jornalista Geneton Moraes Neto, da Globo News, que sabia bem mais sobre os porões do regime do que se permitira declarar até aqui. Ligado ao então presidente Ernesto Geisel, Paulo Egydio afirmou que fora informado pelo então secretário de Segurança Erasmo Dias de casos de torturas em presos políticos e chantagens sobre comandantes militares, mas preferiu não interferir. "Eu delegava poder para isso", esquivou-se.
O jurista Célio Borja, que chegou a ser juíz do Supremo Tribunal Federal, fez a alegria do jornal Folha de S. Paulo em entrevista na semana passada. Ele sustentou a tese de que, simplesmente, não houve uma ditadura militar no Brasil, mas apenas "governos de plenos direitos". Para uma publicação que professa o termo "ditabranda" para classificar o regime militar, nada mais adequado
Os 50 anos do golpe não serviram para que, além da Folha, também o jornal O Estado de S. Paulo fizesse qualquer autocrítica sobre sua participação no apoio à quebra da democracia. Ambos os jornais participaram ativamente a campanha pela desestabilização de Jango na Presidência da República, saudaram a tomada do poder pelos militares e, em seguida, procuraram dar a maior legitimidade possível à nova situação. A Folha, como se sabe, chegou a emprestar carros de distribuição de jornais para o transporte de presos políticos para sessões de tortura. Mas não foi desta vez que os jornais procuraram se redimir de seu casamento com a tirania.
fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/poder/134539/50-anos-de-1964-despertam-lobos-em-%E2%80%98democratas%E2%80%99.htm
CESAR TRALLI É INVESTIGADO POR ENCONTRO COM DELEGADO
Segundo denúncia feita à Corregedoria da polícia de São Paulo, a partir de uma publicação no Facebook, o delegado Antonio de Olim teria usado um carro da polícia descaracterizado para transportar o jornalista Cesar Tralli e o também jornalista Robinson Cerântula, produtor especial do Jornal Nacional, o que pode vir a ser caracterizado como falta funcional; Globo, o delegado e a Corregedoria negam que os jornalistas tenham usado o carro da polícia, mas o site Notícias da TV, do jornalista Daniel Castro, mantém a informação
27 DE MARÇO DE 2014 ÀS 19:40
247 - A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo instaurou uma averiguação preliminar para investigar um encontro do delegado Antonio de Olim com o jornalista Cesar Tralli, apresentador do SP TV 1ª Edição, telejornal da Globo. A informação é do site Notícias da TV (aqui). Olim é investigado por causa de uma denúncia em rede social. Embora a investigação seja secreta, o Notícias da TV apurou que a polícia quer saber se o delegado usou um patrimônio público (um carro) para favorecer os jornalistas da Globo.
Segundo denúncia feita à corregedoria a partir de uma publicação no Facebook, Olim teria usado um carro da polícia descaracterizado para transportar Tralli e o também jornalista Robinson Cerântula, produtor especial do Jornal Nacional, o que pode vir a ser caracterizado como falta funcional. Tanto a Globo quanto o delegado negam que Tralli e Cerântula tenham usado o carro da polícia.
O delegado só foi denunciado porque parou o carro sobre a calçada rua Haddock Lobo, nos Jardins, um dos bairros mais nobres de SP, para evitar a enxurrada que corria pela rua e molharia seus calçados. Indignada com a infração de trânsito e sem saber que se tratava de um carro da polícia, uma moradora do bairro, Rebeca Anafe, tirou uma foto e a publicou no Facebook. Seu protesto já foi compartilhado mais de 1.400 vezes.
Junto com a foto, ela publicou o seguinte relato, no último dia 20:
"Brasil, o país onde todos fazem o que querem! Estava tomando café na [Casa] Bauducco da rua Haddock Lobo, esperando a chuva passar, para eu conseguir atravessar a rua (já que os bueiros não dão conta e desce um rio), quando chegou um carro, parou embaixo de uma placa 'proibido estacionar' e subiu as duas rodas na calçada. Desceram três homens para tomarem o cafezinho da tarde deles. Se um cadeirante quisesse passar, não dava, porque o carro do fofo estava na calçada. Um deles é o jornalista Cesar Tralli".
Ela continua: "Quando entraram e pediram para a funcionária secar a mesa do lado de fora para sentarem, eu falei: 'Senta no carro, já está na calçada mesmo'. Acho que ele não ligou, ou não ouviu. Depois de 20 minutos, quando a aguaceira tinha abaixado e eu consegui ir embora, ele [Tralli] estava lá ainda tranquilo, com o carro na calçada. Parei na primeira esquina, avisei o policial, mas continuo indignada com a folga do povo brasileiro".
No dia seguinte, um telespectador provocou Tralli no Twitter. "Poxa, Cesar Tralli, que brecha!!! Carro na calçada... Logo você que fala de cidadania!". Tralli, então, negou que estivesse no carro. "Não tenho nada a ver com o carro. Eu estava a pé, meu amigo. E fui embora a pé", respondeu o apresentador do SP TV 1ª Edição, que uma semana antes repreendera no ar policiais que estacionam carros da polícia em qualquer lugar.
Questionada no Facebook sobre o desmentido de Tralli, Rebeca reafirmou que o jornalista estava no carro da polícia. "Era impossível andar na Haddock Lobo. Nem calçada tinha quando ele chegou [à Casa Bauducco]. Vai ver ele anda sobre água, abre mares e eu é que estou doida e o vi saindo de um carro sequinho!", ironizou.
A Globo, negou que o apresentador e Robinson Cerântula estivessem no carro da polícia. "Eles estavam trabalhando e chegaram ao local a pé e não usando a viatura da polícia", informou a emissora em nota. O delegado Antonio de Olim disse ao Notícias da TV que Tralli e Cerântula almoçavam nos Jardins quando combinaram com ele um café na Casa Bauducco. "Tenho amizade com ele [Tralli]", afirmou.
Já com a matéria publicada, a Secretaria de Segurança Pública informou que "a Corregedoria da Polícia Civil não investiga o encontro do delegado Antonio de Olim com os jornalistas de Rede Globo Cesar Tralli e Robson Cerântula". A apuração preliminar da corregedoria citada no texto se refere, apenas e tão somente, a uma denúncia de que o delegado teria parado uma viatura sobre a calçada da rua Haddock Lobo. Ou seja, a investigação é sobre suposta falta funcional cometida pelo delegado, que, ao cometer uma possível infração de trânsito, estaria dando mau exemplo à população. A conversa com os jornalistas não configura irregularidade, como esta assessoria informou ao colunista por telefone", completa a nota.
FONTE: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/134716/Cesar-Tralli-%C3%A9-investigado-por-encontro-com-delegado.htm
quinta-feira, 27 de março de 2014
Prefeitura de São Paulo comprará imóvel para evitar despejo de ocupação emblemática (SP)
(Divulgação | Original em Rede Brasil Atual)
Por Gisele Brito
Informação foi dada por administração Haddad durante reunião hoje com moradores da Mauá, que completa sete anos. Ação de desapropriação deve barrar reintegração de posse marcada para dia 15
São Paulo – Depois de sete anos de luta dos moradores, a prefeitura de São Paulo deve desapropriar o edifício ocupado da rua Mauá, no bairro da Luz, região central da cidade. A medida foi informada para os coordenadores da ocupação durante reunião na tarde de hoje (24) pelo secretário municipal de Habitação, José Floriano Neto. “O jogo só termina quando acaba e nós ficaremos atentos até que esteja tudo certo. Mas é uma luz, uma vitória muito grande”, afirma Ivanete Araújo, coordenadora da ocupação e integrante do Movimento Sem-teto do Centro (MSTC).
Na prática, a desapropriação é uma compra. A prefeitura deverá depositar cerca de R$ 11 milhões em uma conta judicial até a primeira semana de abril e, assim, a posse do imóvel passa à administração municipal.
O prazo deve ser cumprido para que a administração Fernando Haddad (PT) possa pedir a suspensão da reintegração de posse do imóvel, marcada para o próximo dia 15. Desde 2012 há um pedido dos proprietários tramitando na Justiça pedindo a saída das famílias. Naquele mesmo ano, os advogados que defendem os moradores do prédio entraram com uma apelação para garantir a permanência no local até que um agravo mostrando irregularidades no processo e a legitimidade da presença dos ocupantes fosse julgado.
Depois disso, sem que os advogados fossem informados, segundo a defensora pública Ana Bueno, um laudo do Corpo de Bombeiros afirmando que “inexistem condições viáveis de habitação no imóvel” foi juntado ao processo, em outubro de 2013. Um mês depois, alegando risco à vida dos ocupantes, o desembargador Simões de Vergueiro, do Tribunal de Justiça, autorizou a reintegração.
Antes de ser ocupado por 237 famílias, o prédio havia passado 20 anos abandonado e os moradores afirmam que, desde 1973, seus proprietários não pagam IPTU. A organização e a resistência dos moradores transformaram a Mauá em uma das mais importantes ocupações da cidade. Em 2012, o grupo de rap Racionais MCs gravou dentro do edifício o clipe da música “Mil Faces de Um homem Leal”, sobre Carlos Marighella, que lutou contra a ditadura (1964-85).
Com a desapropriação, os moradores pretendem reformar as instalações do edifício, que abrigava um hotel. Estudos de técnicos contratados por eles próprios apontaram que é possível viabilizar 160 unidades habitacionais por meio de recursos do programa Minha Casa, Minha Vida Entidades.
A partir daí deve começar uma nova luta para que as 77 famílias restantes sejam incluídas em outros projetos habitacionais. Em outras oportunidades, Floriano também afirmou que apenas 25% da ocupação de prédios ocupados deve ser de pessoas com renda de até três salários mínimos – o restante ficaria na faixa entre três e seis salários.
FONTE: http://pelamoradia.wordpress.com/2014/03/27/prefeitura-de-sao-paulo-comprara-imovel-para-evitar-despejo-de-ocupacao-emblematica-sp/
quarta-feira, 19 de março de 2014
MENSAGEM DE AGRADECIMENTO DEIXADA PELO MSTS
Por considerações iniciais agradecemos a compreensão do Ex. Sr. Dr. juiz de Direito da 1 Vara Cível do Fórum do Tatuapé, outrossim as atuações do Cmte. da Polícia Mílitar, Ministério Público e do Departamento Jurídico de Nossa Entidade na ênfase lograda ao respeito da dignidade da pessoa humana e na defesa da luta pela moradia digna.
Consequentemente salientamos o agradecimento a todos os colaboradores do MSTS na continua batalha das trincheiras pela mesma finalidade = MORADIA
E para o proprietário do imóvel resta-
"A LUTA CONTINUA !!!"
Juiz: Dr. Fábio Rogério Bojo Pellegrino
Cmte. Cel. PM Benedito Roberto Meira
Ao Ilmo. Rep. do Ministério Público do Estado de São Paulo
Adv. Dr. Samuel Vieira de Pinho
FONTE: http://msts.com.br/
domingo, 16 de março de 2014
Sete lições que já deveríamos ter aprendido sobre o golpe de 1964 e sua ditadura
Sete lições sobre o golpe de 1964 e sua ditadura |
Há 50 anos, o Brasil foi capturado pela mais longa, cruel e tacanha ditadura de sua história. Meio século é tempo suficiente para aprendermos algo sobre isso.
Há 50 anos, o Brasil foi capturado pela mais longa, mais cruel e mais tacanha ditadura de sua história.
Meio século é mais que suficiente tanto para aprendermos quanto para esquecermos muitas coisas.
É preciso escolher de que lado estamos diante dessas duas opções.
1ª. LIÇÃO: AQUELA FOI A PIOR DE TODAS AS DITADURAS
No período republicano, o Brasil teve duas ditaduras propriamente ditas. Além da de 1964, a de 1937, imposta por Getúlio Vargas e por ele apelidada de "Estado Novo".
A ditadura de Vargas durou oito anos (1937 a 1945). A ditadura que começou em 1964 durou 21 anos.
Vargas e seu regime fizeram prender, torturar e desaparecer muita gente, mas não na escala do que ocorreu a partir de 1964.
Os torturadores do Estado Novo eram cruéis. Mas nada se compara em intensidade e em profissionalismo sádico ao que se vê nos relatos colhidos pelo projeto "Brasil, nunca mais" ou, mais recentemente, pela Comissão da Verdade.
Em qualquer aspecto, a ditadura de 1964 não tem paralelo.
2ª. lição: QUALIFICAR A DITADURA SÓ COMO “MILITAR” ESCAMOTEIA O PAPEL DOS CIVIS
Foram os militares que deram o golpe, que indicaram os presidentes, que comandaram o aparato repressivo e deram as ordens de caçar e exterminar grupos de esquerda.
Mas a ditadura não teria se instalado não fosse o apoio civil e também a ajuda externa do governo Kennedy.
O golpismo não tinha só tanques e fuzis. Tinha partidos direitosos; veículos de imprensa agressivos; empresários com ódio de sindicatos; fazendeiros armados contra Ligas Camponesas, religiosos anticomunistas. Todos tão ou mais golpistas que os militares.
Sem os civis, os militares não iriam longe. A ditadura foi tão civil quanto militar. Tinha seu partido da ordem; sua imprensa dócil e colaboradora; seus empresários prediletos; seus cardeais a perdoar pecados.
3ª. LIÇÃO: NÃO HOUVE REVOLUÇÃO, E SIM REAÇÃO, GOLPE E DITADURA
Ernesto Geisel (presidente de 1974 a 1979) disse a seu jornalista preferido e confidente, Elio Gaspari, em 1981:
"O que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções fazem-se por uma ideia, em favor de uma doutrina. Nós simplesmente fizemos um movimento para derrubar João Goulart. Foi um movimento contra, e não por alguma coisa. Era contra a subversão, contra a corrupção. Em primeiro lugar, nem a subversão nem a corrupção acabam. Você pode reprimi-las, mas não as destruirá. Era algo destinado a corrigir, não a construir algo novo, e isso não é revolução".
Quase ninguém usa mais o eufemismo “revolução” para se referir à ditadura, à exceção de alguns remanescentes da velha guarda golpista, que provavelmente ainda dormem de botinas, e alguns desavisados, como o presidenciável Aécio Neves, que recentemente cometeu a gafe de chamar a ditadura de “revolução” (foi durante o 57º Congresso Estadual de Municípios de São Paulo, em abril de 2013).
Questionado depois por um jornal, deu uma aula sobre o uso criterioso de conceitos: “Ditadura, revolução, como quiserem”.
A ditadura foi uma reação ao governo do presidente João Goulart e à sua proposta de reformas de base: reforma agrária, política e fiscal.
4ª. LIÇÃO: A CORRUPÇÃO PROSPEROU MUITO NA DITADURA
Ditaduras são regimes corruptos por excelência. Corrupção acobertada pelo autoritarismo, pela ausência de mecanismos de controle, pela regra de que as autoridades podem tudo.
A ditadura foi pródiga em escândalos de corrupção, como o da Capemi, justo a Caixa de Pecúlio dos Militares. As grandes obras, ditas faraônicas, eram o paraíso do superfaturamento.
Também ficaram célebres o caso Lutfalla (envolvendo o ex-governador Paulo Maluf, aliás, ele próprio uma criação da ditadura) e o escândalo da Mandioca.
5ª. LIÇÃO: A DITADURA ACABOU, MAS AINDA TEM MUITO ENTULHO AUTORITÁRIO POR AÍ
O Brasil ainda tem uma polícia militar que segue regulamentos criados pela ditadura.
A Polícia Civil de S. Paulo, em outubro de 2013, enquadrou na Lei de Segurança Nacional (LSN) duas pessoas presas durante protestos.
A tortura ainda é uma realidade presente, basta lembrar o caso Amarildo.
Os corredores do Congresso ainda mostram um desfile de filhotes da ditadura - deputados e senadores que foram da velha Arena (Aliança Renovadora Nacional, que apoiava o regime).
6ª. LIÇÃO: BANALIZAR A DITADURA É ACENDER UMA VELA EM SUA HOMENAGEM
Há duas formas de se banalizar a ditadura. Uma é achar que ela não foi lá tão dura assim. A outra é chamar de ditadura a tudo o que se vê de errado pela frente.
O primeiro caso tem seu pior exemplo no uso do termo "ditabranda" no editorial da Folha de S. Paulo de 17 de fevereiro de 2009.
Para a Folha de S. Paulo, a última ditadura brasileira foi uma branda (“ditabranda”), se comparada à da Argentina e à chilena.
A ditadura brasileira de fato foi diferente da chilena e da argentina, mas nunca foi “branda”, como defende o jornal acusado de ter emprestado carros à Operação Bandeirantes, que caçava militantes de grupos de esquerda para serem presos e torturados.
Como disse a cientista política Maria Victoria Benevides, que infâmia é essa de chamar de brando um regime que prendeu, torturou, estuprou e assassinou?
A outra maneira de se banalizar a ditadura e de lhe render homenagens é não reconhecer as diferenças entre aquele regime e a atual democracia. Para alguns, qualquer coisa agora parece ditadura.
A proposta de lei antiterrorismo foi considerada uma recaída ditatorial do regime dos “comissários petistas” e mais dura que a LSN de 1969. Só que, para ser mais dura que a LSN de 1969, a proposta que tramita no Congresso deveria prever a prisão perpétua e a pena de morte.
O diplomata brasileiro que contrabandeou o senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil comparou as condições da embaixada do Brasil na Bolívia à do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), a casa de tortura da ditadura.
Para se parecer com o DOI-CODI, a Embaixada brasileira em La Paz deveria estar aparelhada com pau de arara, latões para afogamento, cadeira do dragão (tipo de cadeira elétrica), palmatória etc.
Banalizar a ditadura é como acender uma vela de aniversário em sua homenagem.
7ª. LIÇÃO: JÁ PASSOU DA HORA DE PARAR COM AS HOMENAGENS OFICIAIS DE COMEMORAÇÃO DO GOLPE
Por muitos e muitos anos, os comandantes militares fizeram discursos no dia 31 de março em comemoração (isso mesmo) à “Revolução” de 1964.
A provocação oficial, em plena democracia, levou um cala-a-boca em 2011, primeiro ano da presidência Dilma. Neste mesmo ano também foi instituída a Comissão da Verdade.
A referência ao 31 de março foi inventada para evitar que a data de comemoração do golpe fosse o 1º. de abril – Dia da Mentira.
A justificativa é que, no dia 31, o general Olympio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, em Minas Gerais, começou a movimentar suas tropas em direção ao Rio de Janeiro.
Se é assim, a Independência do Brasil doravante deve ser comemorada no dia 14 de agosto, que foi a data em que o príncipe D. Pedro montou em seu cavalo para se deslocar do Rio de Janeiro para as margens do Ipiranga, no estado de São Paulo.
A palavra golpe tem esse nome por indicar a deposição de um governante do poder. No dia 1º. de abril, João Goulart, que estava no Rio de Janeiro, chegou a retornar para Brasília. Em seguida, foi para o Rio Grande do Sul e, depois, exilou-se no Uruguai mas só em 4/4/1964. Que presidente é deposto e viaja para a capital um dia depois do golpe?
O Almanaque da Folha é um dos tantos que insistem na desinformação:
“31.mar.64 — O presidente da República, João Goulart, é deposto pelo golpe militar”. Entende-se. Afinal, trata-se do pessoal da ditabranda.
O que continua incompreensível é o livro “Os presidentes e a República”, editado pelo Arquivo Nacional, sob a chancela do Ministério da Justiça, trazer ainda a seguinte frase:
“Em 31 de março de 1964, o comandante da 4ª Região Militar, sediada em Juiz de Fora, Minas Gerais, iniciou a movimentação de tropas em direção ao Rio de Janeiro. A despeito de algumas tentativas de resistência, o presidente Goulart reconheceu a impossibilidade de oposição ao movimento militar que o destituiu”.
De novo, o conto da Carochinha do 31 de março.
Ainda mais incompreensível é o livro colocar as juntas militares de 1930 e de 1969 na lista dos presidentes da República.
A lista (errada) é reproduzida na própria página da Presidência da República como informação sobre os presidentes do Brasil.
Nem os membros das juntas esperavam tanto. A junta governativa de 1930 assinava seus atos riscando a expressão “Presidente da República”.
No caso da junta de 1969, o livro do Arquivo Nacional diz (p. 145) que o Ato Institucional nº. 12 (AI-12) "dava posse à junta militar" composta pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Ledo engano.
O AI-12, textualmente: “Confere aos Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar as funções exercidas pelo Presidente da República, Marechal Arthur da Costa e Silva, enquanto durar sua enfermidade”. Oficialmente, o presidente continuava sendo Costa e Silva.
Há outro problema. Uma lei da física, o famoso princípio da impenetrabilidade da matéria, diz que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo – que dirá três corpos.
Não há como três chefes militares ocuparem o mesmo cargo de presidente da República. Que república no mundo tem três presidentes ao mesmo tempo?
O que os membros da Junta de 1969 fizeram foi exercer as funções do presidente, ou seja, tomar o controle do governo. O AI-14/1969 declarou o cargo oficialmente vago, quando a enfermidade de Costa e Silva mostrou-se irreversível.
Os três comandantes militares jamais imaginaram que um dia seriam listados em um capítulo à parte no panteão dos presidentes. A Junta ficaria certamente satisfeita com a homenagem honrosa e, definitivamente, imerecida.
Que história, afinal, estamos contando?
Uma história que ainda não faz sentido.
Uma história cujas lições ainda nos resta aprender.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
Meio século é mais que suficiente tanto para aprendermos quanto para esquecermos muitas coisas.
É preciso escolher de que lado estamos diante dessas duas opções.
1ª. LIÇÃO: AQUELA FOI A PIOR DE TODAS AS DITADURAS
No período republicano, o Brasil teve duas ditaduras propriamente ditas. Além da de 1964, a de 1937, imposta por Getúlio Vargas e por ele apelidada de "Estado Novo".
A ditadura de Vargas durou oito anos (1937 a 1945). A ditadura que começou em 1964 durou 21 anos.
Vargas e seu regime fizeram prender, torturar e desaparecer muita gente, mas não na escala do que ocorreu a partir de 1964.
Os torturadores do Estado Novo eram cruéis. Mas nada se compara em intensidade e em profissionalismo sádico ao que se vê nos relatos colhidos pelo projeto "Brasil, nunca mais" ou, mais recentemente, pela Comissão da Verdade.
Em qualquer aspecto, a ditadura de 1964 não tem paralelo.
2ª. lição: QUALIFICAR A DITADURA SÓ COMO “MILITAR” ESCAMOTEIA O PAPEL DOS CIVIS
Foram os militares que deram o golpe, que indicaram os presidentes, que comandaram o aparato repressivo e deram as ordens de caçar e exterminar grupos de esquerda.
Mas a ditadura não teria se instalado não fosse o apoio civil e também a ajuda externa do governo Kennedy.
O golpismo não tinha só tanques e fuzis. Tinha partidos direitosos; veículos de imprensa agressivos; empresários com ódio de sindicatos; fazendeiros armados contra Ligas Camponesas, religiosos anticomunistas. Todos tão ou mais golpistas que os militares.
Sem os civis, os militares não iriam longe. A ditadura foi tão civil quanto militar. Tinha seu partido da ordem; sua imprensa dócil e colaboradora; seus empresários prediletos; seus cardeais a perdoar pecados.
3ª. LIÇÃO: NÃO HOUVE REVOLUÇÃO, E SIM REAÇÃO, GOLPE E DITADURA
Ernesto Geisel (presidente de 1974 a 1979) disse a seu jornalista preferido e confidente, Elio Gaspari, em 1981:
"O que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções fazem-se por uma ideia, em favor de uma doutrina. Nós simplesmente fizemos um movimento para derrubar João Goulart. Foi um movimento contra, e não por alguma coisa. Era contra a subversão, contra a corrupção. Em primeiro lugar, nem a subversão nem a corrupção acabam. Você pode reprimi-las, mas não as destruirá. Era algo destinado a corrigir, não a construir algo novo, e isso não é revolução".
Quase ninguém usa mais o eufemismo “revolução” para se referir à ditadura, à exceção de alguns remanescentes da velha guarda golpista, que provavelmente ainda dormem de botinas, e alguns desavisados, como o presidenciável Aécio Neves, que recentemente cometeu a gafe de chamar a ditadura de “revolução” (foi durante o 57º Congresso Estadual de Municípios de São Paulo, em abril de 2013).
Questionado depois por um jornal, deu uma aula sobre o uso criterioso de conceitos: “Ditadura, revolução, como quiserem”.
A ditadura foi uma reação ao governo do presidente João Goulart e à sua proposta de reformas de base: reforma agrária, política e fiscal.
4ª. LIÇÃO: A CORRUPÇÃO PROSPEROU MUITO NA DITADURA
Ditaduras são regimes corruptos por excelência. Corrupção acobertada pelo autoritarismo, pela ausência de mecanismos de controle, pela regra de que as autoridades podem tudo.
A ditadura foi pródiga em escândalos de corrupção, como o da Capemi, justo a Caixa de Pecúlio dos Militares. As grandes obras, ditas faraônicas, eram o paraíso do superfaturamento.
Também ficaram célebres o caso Lutfalla (envolvendo o ex-governador Paulo Maluf, aliás, ele próprio uma criação da ditadura) e o escândalo da Mandioca.
5ª. LIÇÃO: A DITADURA ACABOU, MAS AINDA TEM MUITO ENTULHO AUTORITÁRIO POR AÍ
O Brasil ainda tem uma polícia militar que segue regulamentos criados pela ditadura.
A Polícia Civil de S. Paulo, em outubro de 2013, enquadrou na Lei de Segurança Nacional (LSN) duas pessoas presas durante protestos.
A tortura ainda é uma realidade presente, basta lembrar o caso Amarildo.
Os corredores do Congresso ainda mostram um desfile de filhotes da ditadura - deputados e senadores que foram da velha Arena (Aliança Renovadora Nacional, que apoiava o regime).
6ª. LIÇÃO: BANALIZAR A DITADURA É ACENDER UMA VELA EM SUA HOMENAGEM
Há duas formas de se banalizar a ditadura. Uma é achar que ela não foi lá tão dura assim. A outra é chamar de ditadura a tudo o que se vê de errado pela frente.
O primeiro caso tem seu pior exemplo no uso do termo "ditabranda" no editorial da Folha de S. Paulo de 17 de fevereiro de 2009.
Para a Folha de S. Paulo, a última ditadura brasileira foi uma branda (“ditabranda”), se comparada à da Argentina e à chilena.
A ditadura brasileira de fato foi diferente da chilena e da argentina, mas nunca foi “branda”, como defende o jornal acusado de ter emprestado carros à Operação Bandeirantes, que caçava militantes de grupos de esquerda para serem presos e torturados.
Como disse a cientista política Maria Victoria Benevides, que infâmia é essa de chamar de brando um regime que prendeu, torturou, estuprou e assassinou?
A outra maneira de se banalizar a ditadura e de lhe render homenagens é não reconhecer as diferenças entre aquele regime e a atual democracia. Para alguns, qualquer coisa agora parece ditadura.
A proposta de lei antiterrorismo foi considerada uma recaída ditatorial do regime dos “comissários petistas” e mais dura que a LSN de 1969. Só que, para ser mais dura que a LSN de 1969, a proposta que tramita no Congresso deveria prever a prisão perpétua e a pena de morte.
O diplomata brasileiro que contrabandeou o senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil comparou as condições da embaixada do Brasil na Bolívia à do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), a casa de tortura da ditadura.
Para se parecer com o DOI-CODI, a Embaixada brasileira em La Paz deveria estar aparelhada com pau de arara, latões para afogamento, cadeira do dragão (tipo de cadeira elétrica), palmatória etc.
Banalizar a ditadura é como acender uma vela de aniversário em sua homenagem.
7ª. LIÇÃO: JÁ PASSOU DA HORA DE PARAR COM AS HOMENAGENS OFICIAIS DE COMEMORAÇÃO DO GOLPE
Por muitos e muitos anos, os comandantes militares fizeram discursos no dia 31 de março em comemoração (isso mesmo) à “Revolução” de 1964.
A provocação oficial, em plena democracia, levou um cala-a-boca em 2011, primeiro ano da presidência Dilma. Neste mesmo ano também foi instituída a Comissão da Verdade.
A referência ao 31 de março foi inventada para evitar que a data de comemoração do golpe fosse o 1º. de abril – Dia da Mentira.
A justificativa é que, no dia 31, o general Olympio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, em Minas Gerais, começou a movimentar suas tropas em direção ao Rio de Janeiro.
Se é assim, a Independência do Brasil doravante deve ser comemorada no dia 14 de agosto, que foi a data em que o príncipe D. Pedro montou em seu cavalo para se deslocar do Rio de Janeiro para as margens do Ipiranga, no estado de São Paulo.
A palavra golpe tem esse nome por indicar a deposição de um governante do poder. No dia 1º. de abril, João Goulart, que estava no Rio de Janeiro, chegou a retornar para Brasília. Em seguida, foi para o Rio Grande do Sul e, depois, exilou-se no Uruguai mas só em 4/4/1964. Que presidente é deposto e viaja para a capital um dia depois do golpe?
O Almanaque da Folha é um dos tantos que insistem na desinformação:
“31.mar.64 — O presidente da República, João Goulart, é deposto pelo golpe militar”. Entende-se. Afinal, trata-se do pessoal da ditabranda.
O que continua incompreensível é o livro “Os presidentes e a República”, editado pelo Arquivo Nacional, sob a chancela do Ministério da Justiça, trazer ainda a seguinte frase:
“Em 31 de março de 1964, o comandante da 4ª Região Militar, sediada em Juiz de Fora, Minas Gerais, iniciou a movimentação de tropas em direção ao Rio de Janeiro. A despeito de algumas tentativas de resistência, o presidente Goulart reconheceu a impossibilidade de oposição ao movimento militar que o destituiu”.
De novo, o conto da Carochinha do 31 de março.
Ainda mais incompreensível é o livro colocar as juntas militares de 1930 e de 1969 na lista dos presidentes da República.
A lista (errada) é reproduzida na própria página da Presidência da República como informação sobre os presidentes do Brasil.
Nem os membros das juntas esperavam tanto. A junta governativa de 1930 assinava seus atos riscando a expressão “Presidente da República”.
No caso da junta de 1969, o livro do Arquivo Nacional diz (p. 145) que o Ato Institucional nº. 12 (AI-12) "dava posse à junta militar" composta pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Ledo engano.
O AI-12, textualmente: “Confere aos Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar as funções exercidas pelo Presidente da República, Marechal Arthur da Costa e Silva, enquanto durar sua enfermidade”. Oficialmente, o presidente continuava sendo Costa e Silva.
Há outro problema. Uma lei da física, o famoso princípio da impenetrabilidade da matéria, diz que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo – que dirá três corpos.
Não há como três chefes militares ocuparem o mesmo cargo de presidente da República. Que república no mundo tem três presidentes ao mesmo tempo?
O que os membros da Junta de 1969 fizeram foi exercer as funções do presidente, ou seja, tomar o controle do governo. O AI-14/1969 declarou o cargo oficialmente vago, quando a enfermidade de Costa e Silva mostrou-se irreversível.
Os três comandantes militares jamais imaginaram que um dia seriam listados em um capítulo à parte no panteão dos presidentes. A Junta ficaria certamente satisfeita com a homenagem honrosa e, definitivamente, imerecida.
Que história, afinal, estamos contando?
Uma história que ainda não faz sentido.
Uma história cujas lições ainda nos resta aprender.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Sete-licoes-que-ja-deveriamos-ter-aprendido-sobre-o-golpe-de-1964-e-sua-ditadura/30429
A atualidade de Rosa Luxemburgo, uma economista política
Rosa Luxemburgo foi uma grande oradora, uma célebre e temida polemista, foi economista e uma das grandes intelectuais do marxismo
Michael Krätke, para o SinPermiso
Assim vocês a conhecem! Foi uma grande oradora, intervinha com discursos e discussões nas campanhas políticas do movimento social-democrata. Foi uma célebre e temida polemista. E foi uma jornalista tão famosa quanto formidável.
Primeira surpresa: Rosa Luxemburgo foi economista (e uma economista muito política!)
Estudou ciências econômicas na Universidade de Zurique, onde obteve seu doutorado em economia no ano de 1897. Sua tese foi sobre uma questão empírica e politicamente comprometida: as consequências do desenvolvimento industrial da Polônia dentro do Império Russo.
Segunda surpresa: professora na Escola do Partido Social-Democrata de Berlim
Rosa Luxemburgo ensinou economia política e histórica econômica (de 1907 até 1914). Assim – outra surpresa –, foi professora também, e uma excelente professora.
Terceira surpresa: Rosa Luxemburgo escreveu um volumoso tratado de economia política (marxista)
Escreveu sua magnum opus sobre problemas teóricos de economia política, um livro publicado há mais de cem anos (A Acumulação do Capital, Berlim, 1913) em que argumentava sobre a seguinte questão: como funciona a acumulação de capital (o crescimento e as mudanças econômicas)?
Como funcionam a escala nacional e internacional, a escala mundial? É preciso responder a essas perguntas se quiser entender ou explicar o fenômeno do “imperialismo”.
O que encontramos em A Acumulação do Capital?
* Primeiro: uma discussão muito crítica sobre a análise de Marx da “reprodução ampliada do capital” (3ª seção do Volume II de O Capital);
* Segundo: uma retomada das batalhas teóricas em torno deste problema, antes e depois de Marx;
* Terceiro: a solução da própria Rosa Luxemburgo para esse problema... uma solução que pretende ser uma contribuição à “explicação econômica do imperialismo”;
- A crítica de Rosa Luxemburgo a Marx
* Acumulação significa do crescimento (Rosa Luxemburgo aponta para aquilo que Marx havia denominado “acumulação acelerada”);
*Marx não resolve o “problema de realização”: De onde vem a demanda agregada adicional/ demanda monetária adicional? Quem compra os volumes adicionais das mercadorias produzidas?
* Marx não mostra a transição da reprodução “simples” para a reprodução “ampliada”;
* Marx não analisou o processo “real”: suas abstrações (da circulação monetária, do mercado mundial) vão excessivamente longe;
- A solução de Rosa Luxemburgo
* A demanda adicional (dinheiro) vem de fora: a solução de “terceiros”;
* Porém: esses terceiros e sua demanda só podem ser encontrados fora do capitalismo, nas partes não capitalistas do mundo;
* Logo: a fim de resolver o problema da acumulação, as economias capitalistas (e seus Estados) têm que invadir e ocupar regiões não capitalistas do mundo (“Landnahme”: tomada, ocupação ou saque de territórios);
- Como funciona a expansão/ocupação capitalista?
* Por várias vias e etapas, como Rosa Luxemburgo se encarrega de mostrar nos últimos
capítulos de seu livro;
* Mediante a destruição das economias de subsistência, das economias naturais;
* Forçando os produtores não capitalistas a entrar no mercado econômico mundial;
* Destruindo as economias camponesas e as economias mercantis simples;
* Com a dívida e o endividamento crescente (por meio do crédito internacional e da
exportação de capitais);
* Mediante a colonização formal e informal, transformando regiões, países e povos inteiros em súditos das grandes nações capitalistas
Começa o debate: Otto Bauer e Anton Pannekoek. A contracrítica de Rosa Luxemburgo:
* Contra Otto Bauer (e outros) que criticam a modelização, a análise dos equilíbrios
dinâmicos e a teoria do crescimento/acumulação;
* A economia política marxista/marxiana deveria explicar a ascensão e a queda do capitalismo real: uma “teoria do desenvolvimento capitalista” deveria determinar os “limites do capitalismo” (internos e externos);
* A teoria da acumulação deveria ser interpretada como uma teoria da crise e da decadência do capitalismo (e não de sua “fusão”);
* A acumulação de capital deveria ser entendida como um processo econômico e político;
A relevância de Rosa Luxemburgo
A crítica de Rosa Luxemburgo a Marx estava equivocada.
Nisso, Bauer e Pannekoek tinham razão. Mas:
* Rosa Luxemburgo desencadeou um dos debates mais importantes em longo prazo na história da teoria econômica marxista;
* Sua ideia fundamental a sobre a expansão em escala planetária do capitalismo era correta
(como também o grosso de sua análise sobre o real processo de colonização);
* A grande e intrigante questão é: o que acontece quando o capitalismo se aproxima do MOMENTO LUXEMBURGUIANO?
O capitalismo global
* Onde estamos agora, um século depois?
* A transformação do sistema capitalista mundial (a Tríade econômica vindoura está incubada).
* Alguns mercados se tornaram globais, outros têm impacto global (mercados financeiros), mas não todos.
* Nenhuma parte do mundo se situa fora do sistema capitalista mundial, mas ainda prevalece uma grande “variedade” de capitalismos.
* Com a descolonização, o novo “imperialismo” do livre comércio, o dinheiro mundial e um punhado de oligopólios enormes;
* Economias emergentes: China e os BRICS: as potências capitalistas mundiais em ascensão do século XXI;
A Landnahme capitalista hoje
Nas áreas não capitalistas subsistentes dentro das economias capitalistas:
* Mercantilização de tudo (as coisas que não são mercadorias, os bens públicos, os comuns);
* Transformação dos objetos de luxo em bens de consumo massivos;
* Integração da classe trabalhadora (e até dos mais pobres) à economia do crédito;
* Transformação do ócio, da família e das atividades comunitárias em atividades comerciais;
* Estabelecimento de um regime de endividamento permanente da grande maioria (incluindo os EUA).
A alternativa de Rosa Luxemburgo: Socialismo democrático e democracia
econômica
Michael R. Krätke é membro do Conselho Editorial do SINPERMISO, é professor de política econômica e direito fiscal na Universidade de Amsterdã. Lá, é também pesquisador associado ao Instituto Internacional de História Social e catedrático de economia política e diretor do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de Lancaster no Reino Unido
Primeira surpresa: Rosa Luxemburgo foi economista (e uma economista muito política!)
Estudou ciências econômicas na Universidade de Zurique, onde obteve seu doutorado em economia no ano de 1897. Sua tese foi sobre uma questão empírica e politicamente comprometida: as consequências do desenvolvimento industrial da Polônia dentro do Império Russo.
Segunda surpresa: professora na Escola do Partido Social-Democrata de Berlim
Rosa Luxemburgo ensinou economia política e histórica econômica (de 1907 até 1914). Assim – outra surpresa –, foi professora também, e uma excelente professora.
Terceira surpresa: Rosa Luxemburgo escreveu um volumoso tratado de economia política (marxista)
Escreveu sua magnum opus sobre problemas teóricos de economia política, um livro publicado há mais de cem anos (A Acumulação do Capital, Berlim, 1913) em que argumentava sobre a seguinte questão: como funciona a acumulação de capital (o crescimento e as mudanças econômicas)?
Como funcionam a escala nacional e internacional, a escala mundial? É preciso responder a essas perguntas se quiser entender ou explicar o fenômeno do “imperialismo”.
O que encontramos em A Acumulação do Capital?
* Primeiro: uma discussão muito crítica sobre a análise de Marx da “reprodução ampliada do capital” (3ª seção do Volume II de O Capital);
* Segundo: uma retomada das batalhas teóricas em torno deste problema, antes e depois de Marx;
* Terceiro: a solução da própria Rosa Luxemburgo para esse problema... uma solução que pretende ser uma contribuição à “explicação econômica do imperialismo”;
- A crítica de Rosa Luxemburgo a Marx
* Acumulação significa do crescimento (Rosa Luxemburgo aponta para aquilo que Marx havia denominado “acumulação acelerada”);
*Marx não resolve o “problema de realização”: De onde vem a demanda agregada adicional/ demanda monetária adicional? Quem compra os volumes adicionais das mercadorias produzidas?
* Marx não mostra a transição da reprodução “simples” para a reprodução “ampliada”;
* Marx não analisou o processo “real”: suas abstrações (da circulação monetária, do mercado mundial) vão excessivamente longe;
- A solução de Rosa Luxemburgo
* A demanda adicional (dinheiro) vem de fora: a solução de “terceiros”;
* Porém: esses terceiros e sua demanda só podem ser encontrados fora do capitalismo, nas partes não capitalistas do mundo;
* Logo: a fim de resolver o problema da acumulação, as economias capitalistas (e seus Estados) têm que invadir e ocupar regiões não capitalistas do mundo (“Landnahme”: tomada, ocupação ou saque de territórios);
- Como funciona a expansão/ocupação capitalista?
* Por várias vias e etapas, como Rosa Luxemburgo se encarrega de mostrar nos últimos
capítulos de seu livro;
* Mediante a destruição das economias de subsistência, das economias naturais;
* Forçando os produtores não capitalistas a entrar no mercado econômico mundial;
* Destruindo as economias camponesas e as economias mercantis simples;
* Com a dívida e o endividamento crescente (por meio do crédito internacional e da
exportação de capitais);
* Mediante a colonização formal e informal, transformando regiões, países e povos inteiros em súditos das grandes nações capitalistas
Começa o debate: Otto Bauer e Anton Pannekoek. A contracrítica de Rosa Luxemburgo:
* Contra Otto Bauer (e outros) que criticam a modelização, a análise dos equilíbrios
dinâmicos e a teoria do crescimento/acumulação;
* A economia política marxista/marxiana deveria explicar a ascensão e a queda do capitalismo real: uma “teoria do desenvolvimento capitalista” deveria determinar os “limites do capitalismo” (internos e externos);
* A teoria da acumulação deveria ser interpretada como uma teoria da crise e da decadência do capitalismo (e não de sua “fusão”);
* A acumulação de capital deveria ser entendida como um processo econômico e político;
A relevância de Rosa Luxemburgo
A crítica de Rosa Luxemburgo a Marx estava equivocada.
Nisso, Bauer e Pannekoek tinham razão. Mas:
* Rosa Luxemburgo desencadeou um dos debates mais importantes em longo prazo na história da teoria econômica marxista;
* Sua ideia fundamental a sobre a expansão em escala planetária do capitalismo era correta
(como também o grosso de sua análise sobre o real processo de colonização);
* A grande e intrigante questão é: o que acontece quando o capitalismo se aproxima do MOMENTO LUXEMBURGUIANO?
O capitalismo global
* Onde estamos agora, um século depois?
* A transformação do sistema capitalista mundial (a Tríade econômica vindoura está incubada).
* Alguns mercados se tornaram globais, outros têm impacto global (mercados financeiros), mas não todos.
* Nenhuma parte do mundo se situa fora do sistema capitalista mundial, mas ainda prevalece uma grande “variedade” de capitalismos.
* Com a descolonização, o novo “imperialismo” do livre comércio, o dinheiro mundial e um punhado de oligopólios enormes;
* Economias emergentes: China e os BRICS: as potências capitalistas mundiais em ascensão do século XXI;
A Landnahme capitalista hoje
Nas áreas não capitalistas subsistentes dentro das economias capitalistas:
* Mercantilização de tudo (as coisas que não são mercadorias, os bens públicos, os comuns);
* Transformação dos objetos de luxo em bens de consumo massivos;
* Integração da classe trabalhadora (e até dos mais pobres) à economia do crédito;
* Transformação do ócio, da família e das atividades comunitárias em atividades comerciais;
* Estabelecimento de um regime de endividamento permanente da grande maioria (incluindo os EUA).
A alternativa de Rosa Luxemburgo: Socialismo democrático e democracia
econômica
Michael R. Krätke é membro do Conselho Editorial do SINPERMISO, é professor de política econômica e direito fiscal na Universidade de Amsterdã. Lá, é também pesquisador associado ao Instituto Internacional de História Social e catedrático de economia política e diretor do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de Lancaster no Reino Unido
fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/A-atualidade-de-Rosa-Luxemburgo-uma-economista-politica/7/30465
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