segunda-feira, 9 de junho de 2014

MSTS quer entrar em programa do governo federal

O ESTADO DE S.PAULO
08 Junho 2014 | 02h 01

Nas escadarias de mármore branco do antigo Cine Marrocos, Douglas
Gomes, de 35 anos, orienta duas jovens com crianças de colo a pedir o exame de
DNA de seus ex-maridos. Ele é o mentor jurídico do Movimento dos Sem Teto do
Sacomã (MSTS). Em menos de 9 meses desde sua fundação, a entidade já
comanda sete ocupações no centro. Nelas moram 996 famílias que pagam
mensalidade de R$ 200.

"Nós estamos buscando credenciamento do governo federal para construir obras
do Minha Casa Minha Vida", afirma Gomes sobre o objetivo do movimento.
"Precisamos de uma aliança política com os governos, para conseguir parcerias",
emenda.

O MSTS tem sido um dos protagonistas das manifestações de sem-teto que
pararam a cidade nos últimos três meses. Todos os moradores de suas sete
ocupações são obrigados a participar dos protestos, com a camisa da entidade, que
custa R$ 15. Quem ajuda Gomes a coordenar as famílias é a líder sem-teto Dalva
Silva, de 32 anos. O presidente é Robson Santos, filiado ao PT há mais de 20 anos.

"O governo municipal já disse que as invasões com menos de um ano não vão
virar moradia. Não vamos poder ficar aqui no Cine Marrocos", diz Douglas,
ciente da situação do edifício, desapropriado em 2012 para virar sede da Secretaria
Municipal de Educação. Sobre as mensalidades de R$ 200, ele diz que o valor
cobre apenas os custos da ocupação.

Pelos corredores foram instaladas câmeras de segurança - um circuito interno de
TV é monitorado por um funcionário contratado pelo movimento. "Muito
condomínio não tem essa estrutura", afirma Gomes. / D.Z.

Estrangeiros já são 2 mil em ocupações e engrossam atos às vésperas da Copa

DIEGO ZANCHETTA - O ESTADO DE S.PAULO
08 Junho 2014 | 02h 01

No prédio do antigo Cine Marrocos, na região central de São Paulo, 475 famílias
pagam R$ 200 mensais ao Movimento dos Sem Teto do Sacomã (MSTS), criado
em setembro de 2013 e responsável por sete ocupações. Dos sete andares, três estão
reservados só para estrangeiros. Haitianos, o grupo mais numeroso, somam 52
famílias e ficam no segundo pavimento. Camaroneses e dominicanos estão logo
acima, no terceiro. No quarto ficam peruanos, bolivianos e venezuelanos. Gays e
travestis foram agrupados no quinto andar.

Às vésperas da Copa do Mundo, estrangeiros moradores de ocupações, incluindo
imigrantes de Serra Leoa, por exemplo, que participaram de conflitos armados em
seu país, estão escalados na linha de frente dos protestos de sem-teto marcados
para acontecer na cidade a partir de terça-feira.

Atualmente, 17 movimentos de luta por moradia - entre eles Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Luta por Moradia Digna (LMD), Movimento
Moradia Para Todos (MMPT) e Frente de Luta por Moradia (FLM) - pressionam
vereadores a incluir no novo Plano Diretor proposta que reserva novos terrenos
para a construção de conjuntos populares, até mesmo em áreas nobres e de
preservação ambiental. Os atos prometem mais uma vez parar o centro, como
vem acontecendo há três meses.

Para conseguir entrar em algum programa habitacional, como o Minha Casa
Minha Vida, porém, o estrangeiro precisa ter pelo menos 5 anos de residência fixa e
legal no Brasil, além de filho matriculado em escola, entre outras exigências. É
essa esperança que move o haitiano Wadson Jean, de 34 anos. No País desde 2011,
ele quer arrumar logo uma mulher e ter um filho. Jean mora no prédio do Cine
Marrocos desde o fim do ano passado e já viveu em duas favelas. "Não perco um
protesto", afirma o haitiano.

Os principais movimentos estimam que africanos e latinos representem hoje 10%
dos moradores dos 50 prédios da região central que viraram ocupações desde
outubro de 2012. Segundo a Prefeitura, são 20 mil moradores fixos nos edifícios - 2
mil são estrangeiros.

Africanos que perambularam nos últimos anos em favelas da zona leste
encontraram refúgio nos prédios invadidos do centro, onde as mensalidades
cobradas dos movimentos de sem-teto variam de R$ 30 a R$ 220, valores bem
mais baixos do que o aluguel na periferia. O mesmo aconteceu com bolivianos e
peruanos que moravam em cortiços e pensões na região central.

Os camaroneses também não param de chegar às ocupações. Sylvie Aristide
Tchocgnia, de 30 anos, está no País desde 2012. Em seu apartamento de 30 metros
quadrados no Cine Marrocos chama a atenção um longo sofá vermelho e dois
tapetes aveludados verdes, com estampa de tigre. "Minha patroa que deu o sofá.
Ela veio aqui. Nem acreditou na organização do prédio, na limpeza. Os tapetes eu
trouxe de Garoua", relata a camaronesa, citando sua cidade natal.

Sylvie mora com a filha de 3 anos e trabalha na limpeza de uma galeria comercial
da Rua São Bento. Antes, ela morou por 15 meses em uma favela no Jaçanã, na
zona norte. "O pessoal nos bairros tem preconceito com a gente", diz.

Sonho. Os estrangeiros também ocupam andares inteiros no número 138 da Rua
Marconi, no 10 da Avenida Rio Branco e no 908 da Avenida Ipiranga. Eles
afirmam se sentir mais "confortáveis" com pessoas da mesma nacionalidade.
Muitos dizem ter sofrido preconceito em outras áreas da cidade.

A divisão, segundo as lideranças, facilita a convivência das famílias e a divisão de
tarefas. "São pessoas sofridas. Chegaram ao País sem condição de trabalhar ou
alugar um imóvel. Eles se sentem mais amparados quando estão perto de
parentes", afirma a líder Welita Caetano, de 29 anos.

Prestes a completar 5 anos de Brasil no dia 9 de setembro, o casal de peruanos
Carmem Paredes, de 32 anos, e seu marido, Richard Torres, de 33, não deseja mais
nada na vida além de uma casa própria. Eles moram com o filho, Luis Gustavo, de
4 anos, e nunca faltam em protestos do MSTS. "Quando não consigo ir, por causa
do filho, meu marido vai. A gente não falta em nenhum. O próprio artigo 6.º da
Constituição assegura moradia a todos os cidadãos do País, não diz que estrangeiro
não pode", afirma Carmem, repetindo um mantra adotado pelos moradores de
ocupações do centro.

O texto constitucional é repetido também pelos moradores de andares reservados a
homossexuais e idosos. "Eu fiquei 15 dias acampado na frente da Prefeitura no ano
passado, quando cortaram nossa luz. Eu vou para todo protesto. Todo mundo tem
direito à moradia digna", diz Alessandro Feitosa, de 38 anos, que trabalha no
Aeroporto de Cumbica e decorou seu quarto no Cine Marrocos com capas de gibis.
Antes ele morava em um albergue na zona norte.

http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,estrangeiros-ja-sao-2-mil-em-ocupacoes-e-engrossam-atos-as-vesperas-da-copa-imp-,1507593

‘Torre de babel’: ocupação de sem-teto no centro de SP tem 60% de estrangeiros

Por Ana Flávia Oliveira - iG São Paulo 

Conhecido como ocupação Sé, Edifício Nazareth foi invadido no final de janeiro e tem 51 famílias, que totalizam 170 pessoas



Angolanos, peruanos, bolivianos, guineenses e nigerianos formam a maior parte dos moradores do edifício Nazareth, localizado no número 47 da Praça da Sé, no coração da capital paulista. Ocupado há cerca de cinco meses, o prédio - bem conservado, limpo e com as ligações de água e luz regularizadas - é uma verdadeira Torre de Babel, onde vivem 51 famílias (que totalizam 170 pessoas). Segundo os dirigentes do Movimento do Sem-teto de São Paulo (MSTS), responsável pela ocupação, 60% dos novos moradores são estrangeiros.
“Eles chegam ao Brasil muitas vezes sem conhecer ninguém, não têm para onde ir e acabam indo para as ocupações”, diz a coordenadora do Nildalva Silva, 32 anos, conhecida como Dalva, para explicar a forte presença dos estrangeiros na ocupação.
Ana Flávia Oliveira/iG São Paulo
Ana Mimi e a coordenadora Dalva conversam no hall de um dos andares
O prédio, que antes de ser ocupado pelo movimento abrigava conjuntos de escritórios, tem 11 andares - cada um com quatro a cinco salas transformadas em pequenos apartamentos e dois banheiros, que são divididos entre duas ou três famílias. O edifício tem ainda dois elevadores que levam os moradores até o 10º andar - para chegar ao último é preciso subir um lance de escada em caracol. Dalva diz que o elevador foi consertado pelos ocupantes.
Moradora do 11º, a angolana Maria Madalena, de 37 anos, vive com o marido e os três filhos - uma adolescente de 15 anos, um menino de 12 anos e uma menina de 8 anos - em um apartamento com um quarto, banheiro - apenas para o uso da família-, cozinha e varanda, de onde é possível ter uma vista privilegiada da Praça da Sé, com a catedral e o Palácio da Justiça ao fundo.

Maria chegou ao Brasil há dois anos e antes de viver no edifício Nazareth pagava aluguel de R$ 700 em uma casa de três cômodos em Guaianases, na zona leste da capital. Hoje, assim como todos os moradores, ela contribui com R$ 100 a R$ 200 revertidos para o pagamento das contas de consumo e manutenção do prédio, segundo o MSTS.
“A renda está muito cara. Vivia em uma casa, pagava luz, pagava água, internet. Tudo chega ao custo de R$ 1.000. Eu sou cabeleireira: um dia tem trabalho, outro dia não tem. Como fica? A gente tem tudo com muita dificuldade. Quando a gente escutou esse movimento, viemos juntos lutar. Conseguimos esse lugar. A gente está pagando um preço que, se hoje não consegue, amanhã, consegue”, diz Maria.
“Eles chegam ao Brasil muitas vezes sem conhecer ninguém, não têm para onde ir e acabam indo para as ocupações”, diz a coordenadora do Nildalva Silva, 32 anos, conhecida como Dalva, para explicar a forte presença dos estrangeiros na ocupação.
Ana Flávia Oliveira/iG São Paulo
Ana Mimi e a coordenadora Dalva conversam no hall de um dos andares
O prédio, que antes de ser ocupado pelo movimento abrigava conjuntos de escritórios, tem 11 andares - cada um com quatro a cinco salas transformadas em pequenos apartamentos e dois banheiros, que são divididos entre duas ou três famílias. O edifício tem ainda dois elevadores que levam os moradores até o 10º andar - para chegar ao último é preciso subir um lance de escada em caracol. Dalva diz que o elevador foi consertado pelos ocupantes.
Moradora do 11º, a angolana Maria Madalena, de 37 anos, vive com o marido e os três filhos - uma adolescente de 15 anos, um menino de 12 anos e uma menina de 8 anos - em um apartamento com um quarto, banheiro - apenas para o uso da família-, cozinha e varanda, de onde é possível ter uma vista privilegiada da Praça da Sé, com a catedral e o Palácio da Justiça ao fundo.
Maria chegou ao Brasil há dois anos e antes de viver no edifício Nazareth pagava aluguel de R$ 700 em uma casa de três cômodos em Guaianases, na zona leste da capital. Hoje, assim como todos os moradores, ela contribui com R$ 100 a R$ 200 revertidos para o pagamento das contas de consumo e manutenção do prédio, segundo o MSTS.
“A renda está muito cara. Vivia em uma casa, pagava luz, pagava água, internet. Tudo chega ao custo de R$ 1.000. Eu sou cabeleireira: um dia tem trabalho, outro dia não tem. Como fica? A gente tem tudo com muita dificuldade. Quando a gente escutou esse movimento, viemos juntos lutar. Conseguimos esse lugar. A gente está pagando um preço que, se hoje não consegue, amanhã, consegue”, diz Maria.
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2014-06-07/torre-de-babel-ocupacao-de-sem-teto-no-centro-de-sp-tem-60-de-estrangeiros.html