sábado, 1 de novembro de 2014

Sem lugar para morar, travestis vão parar em ocupações de São Paulo

DIEGO ZANCHETTA - O ESTADO DE S. PAULO
31 Outubro 2014 |  19h 36

Muitas acabaram expulsas de casa; resolução de conselho incluiu
grupo na fila prioritária do Minha Casa Minha Vida

SÃO  PAULO  - Eliane  da  Silva,  de  32  anos,  assumiu  ser  lésbica  há  três  e  não  teve  a
aceitação  da  família.  Saiu  de  casa,  em  Francisco Morato,  e  perambulou  em
cômodos  alugados  até  ir  parar  na  ocupação  do Cine Marrocos,  no  centro  de  São
Paulo.  Lá,  ela  ajuda  como  ascensorista  e  babá  para  ficar  livre  do  “condomínio”  de
R$  200 mensais.“Nunca  nem  tentei   entrar  no Minha Casa Minha Vida  porque  sempre
achei   que  era  para  quem  tem  filhos”, contou  Silva  à  reportagem  do Estado. Nesta  sexta-feira,  31,  ela  completava  um  ano  na  ocupação  da  região central,  onde  o  terceiro  andar  inteiro  é  reservado  para  travestis  e  homossexuais.

“Os  programas  habitacionais  são  feitos  para  a  ‘ família  padrão’,  casados  e  com
fi lhos. Quem  é  sozinho  nunca  consegue  ser  contemplado”,  pontua Douglas Gomes,
de  36  anos,  do Movimento  dos  Sem  Teto  do  Sacomã  (MSTS).

Uma  resolução  do Conselho Municipal  de Habitação  (CMH)  definiu  que  gays  em situação  de  violência,  travestis moradoras  em  albergues  e  índios  também  podem ser  beneficiados  com  prioridade  nas  unidades  do  Programa Minha Casa Minha Vida  construídas  em  São  Paulo. A  norma  complementar  ao  projeto  do  governo federal,  publicada  hoje  no Diário Oficial  da Cidade,  também  permite  incluir  na  fila prioritária  do  programa moradores  em  áreas  limites  de municípios  vizinhos  da capital  paulista  e  idosos  sozinhos  com mais  de  60  anos.

Alex Silva/Estadão

No Cine Marrocos  também mora  a  travesti   amazonense Everton  Plum,  de  40  anos. Até  o  fim  de  2013,  ficava  todas  as  noites  no Albergue Arsenal, mantido  pela  Igreja Católica  na Moóca,  na  zona  leste. Ela  fugiu  de  casa  aos  11  anos,  logo  após  a  família descobrir  que  era  gay.  “Eu  até  tentei   entrar  no Minha Casa Minha Vida, mas  fui informado  de  que  não  poderia  entrar  na  fi la  prioritária”,  contou  Plum.

fonte: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,sem-lugar-para-morar-travestis-vao-parar-em-ocupacoes-de-sao-paulo,1586313