segunda-feira, 14 de abril de 2014

Egito: não à execução em massa

Postado:  27 março 2014
No Egito, um tribunal capenga acabou de condenar 528 pessoas à morte. Esta talvez seja a maior decisão de execução em massa do nosso século, mas há um homem que tem 10 dias para impedir estas mortes. 

A figura religiosa mais importante do Egito, o Grande Mufti Allam, tem 10 dias para rejeitar essa decisão. Líderes religiosos já condenaram a decisão e, como o primeiro Mufti a ser eleito pelos seus colegas, ele possui um mandato legítimo para ser o líder moral da nação. Vamos criar um apelo global de pessoas de todas as religiões, por clemência e para impedir essa decisão bárbara. 

Este julgamento foi político – o regime militar está usando o pelotão de fuzilamento para acabar com a oposição. Se o mundo não se manifestar, as consequências para o Egito e para o mundo serão muito mais que perigosas. Assine agora para salvar essas vidas e parar a espiral de violência – quando chegarmos a um milhão de assinaturas, líderes religiosos no Egito entregarão nosso pedido de indulto aos condenados diretamente a Mufti..



Ao Grande Mufti Shawki Ibrahim Abdel-Karin Allam:

Enquanto cidadãos de todas as partes do mundo, ficamos horrorizados com a sentença de execução em massa para os 528 cidadãos egípcios na cidade de Minia. Segundo vários relatos, o julgamento não atende a requisitos legais básicos. Por ser o maior líder muçulmano do Egito, sua autoridade moral é uma grande força para o futuro do país. Pedimos que o senhor rejeite formalmente esta decisão e salve estas vidas.

Acampamento em frente à prefeitura do Rio já reúne 600 pessoas

Grupo foi retirado de imóvel da telefônica Oi na sexta-feira; lideranças convocam mais famílias para fortalecer o protesto

13 de abril de 2014 | 14h 25
Roberta Pennafort - O Estado de S. Paulo
RIO DE JANEIRO- Cerca de 600 pessoas ainda estão acampadas na porta da prefeitura do Rio de Janeiro neste domingo, 13. Elas vêm da chamada Favela da Telerj, que se formou desde 31 de março num prédio abandonado da operadora de telefonia Oi, no Engenho Novo, zona norte carioca. O acampamento começou na sexta-feira à tarde, 11, e a quantidade de pessoas já é quatro vezes maior do que a de sábado, 12.
Líderes do movimento contrataram mototaxistas para passar nas comunidades das quais saiu boa parte da famílias para convocar mais participantes. O grupo acredita que quanto mais gente acampar maior será a pressão e mais rapidamente poderá sair um acordo com a prefeitura do Rio.
Uma comissão apoiada por advogados voluntários foi recebida pela prefeitura neste domingo. A proposta foi fazer o cadastro das famílias em outro local, de modo que a frente da prefeitura fosse desocupada até esta segunda-feira, 14, para não atrapalhar o expediente, o que não foi aceito por elas. O grupo exige uma solução imediata de moradia.
Cerca de três mil pessoas estavam vivendo no prédio que foi desocupado à força pela PM na madrugada de sexta-feira. Os confrontos entre policiais militares e os ocupantes deixaram pelo menos 12 pessoas feridas.
fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,acampamento-em-frente-a-prefeitura-do-rio-ja-reune-600-pessoas,1153290,0.htm

AG, uma das donas da Oi, superfaturou obra em valor maior do que terreno no Rio, segundo TCE



Segundo relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio de Janeiro, as empreiteiras Odebrecht e AG (Andrade Gutierrez) superfaturaram em R$ 67 milhões obras no Maracanã.

A AG é também uma das donas da Oi, ao lado da família Jereissati, do ex-sanador tucano Tasso Jereissati. 

A Oi é quem entrou na justiça pedindo reintegração de posse da ocupação de seu terreno, resultando numa operação policial violenta, revolta e famílias de sem-teto que estão acampados em frente à prefeitura do Rio. 

Esse valor de R$ 67 milhões deve ser superior ao do terreno onde houve a polêmica desocupação da favela da Telerj (antigo nome da Oi).

Há um ano o prefeito Eudardo Paes (PMDB) assinou em público um protocolo junto com o então presidente da Oi para compra do terreno. Falou-se que o custo seria R$ 20 milhões. Hoje Paes diz que não chegaram a um acordo quanto ao preço.

Detalhe: É estranho que esta mesma "austeridade" na negociação não tenha sido praticada pelo governo estadual na hora de aceitar orçamentos na obra do Maracanã.

Voltando ao terreno da Oi, a falta de acordo com a prefeitura mostra de que lado o prefeito escolhe ficar. Poderia fazer uma política urbana que garantisse a finalidade social da propriedade, já que o terreno e prédios estavam semi-abandonado. Poderia ter obrigado a Oi a dar outro uso para o terreno ou ter cobrado Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo, entre outras ações. Ou poderia ter desapropriado, com a justiça arbitrando o preço.

Nada disso foi feito. A Polícia Militar, cujo comandante maior é o governador do estado, também do PMDB, acabou sendo usada com uso do dinheiro público para funcionar como segurança privada de uma mega-empresa.

Tudo bem que a Constituição garante o direito de propriedade, e que havia uma ordem judicial de reintegração de posse. Mas tudo isso poderia ser evitado se a prefeitura tivesse agido com boa vontade para resolver a questão social, inclusive porque a Constituição fala da função social da propriedade.

Pelas escolhas dos governos do PMDB do Rio, a lei funciona a favor dos ricos e contra os pobres.

fonte: http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2014/04/ag-uma-das-donas-da-oi-superfaturou.html

[Vídeo] Favela da Telerj: “Infelizmente, a rua agora é a nossa casa!”

Vídeo mostra o inicio da ocupação da Favela da Telerj e a violência do Estado no despejo das famílias.
É só clicar no link abaixo
VÍDEO DO DESASTRE

Tumulto e violência marcam remoção em 'favela da Telerj' no Rio

Atualizado em  11 de abril, 2014 - 14:25 (Brasília) 17:25 GMT
Reuters
80 militares e 1,5 mil PMs removeram as 6 mil famílias em três horas
Cerca de 80 militares e mais de 1,5 mil policiais removeram mais de 6 mil famílias que haviam invadido um terreno de 50 mil metros quadrados no bairro de Engenho Novo, na Zona Norte do Rio, na manhã desta sexta-feira. Marcada por tumulto e confrontos, a operação deixou dezenas de feridos, entre eles três crianças. Ônibus e carros foram incendiados, um supermercado foi saqueado, e ao menos 20 pessoas foram detidas.
No início da tarde desta sexta-feira, cerca de 50 pessoas seguem reunidas em um protesto diante do terreno e ainda há focos de incêndio nos prédios. A situação é muito mais tranquila, mas ainda não está totalmente sob controle e há relatos de provocações por parte da população e ações truculentas da polícia.
De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfico), ainda há bloqueios em algumas ruas da região e os distúrbios afetam o trânsito em outras partes da cidade. Também houve problemas no transporte público e a concessionária Supervia reforçou a segurança em torno das estações ferroviárias.
A retirada começou por volta das 5h da manhã quando as forças de segurança chegaram ao local. Houve resistência da população, que ateou fogo a partes dos prédios e a quatro ônibus, um carro e dois caminhões. Um supermercado do bairro foi invadido e saqueado.
O terreno abriga prédios abandonados onde funcionava um almoxarifado da empresa de telecomunicações Oi (antiga Telerj) e segundo a empresa era cercado por grades e seguranças. Na semana passada, uma liminar judicial já havia concedido a reintegração de posse, mas a decisão só foi cumprida nesta sexta.
A ocupação teve início no final de março e já durava 11 dias. Em apenas quatro dias as famílias já haviam erguido barracos no local, até mesmo sobre as lajes dos edifícios, e a ocupação já contava com ligações de água e energia elétrica clandestinas.
Segundo a PM, a retirada das cerca de 6 mil famílias levou três horas. Ainda durante a operação, um repórter do jornal O Globo foi preso por filmar a ação da polícia.
FONTE: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140411_rio_favela_retomada_fn.shtml

sábado, 12 de abril de 2014

Morador de prédio desocupado fica cego após ser atingido por tiro

'Ele era meus olhos, minhas pernas. E agora?', desabafou Márcia da Conceição Gonçalves

11 de abril de 2014 | 15h 10
haise Constancio - O Estado de S. Paulo
RIO - O entregador de pizza Maycon Gonçalves Melo, de 25 anos, ficou cego de um olho durante a desocupação da Favela da Telerj nesta sexta-feira, 11, no Rio, segundo a mãe do rapaz. Ele teria sido atingido por um tiro no olho esquerdo e está internado no Hospital Municipal Souza Aguiar. A mãe dele, Maria da Conceição Gonçalves, de 42 anos, foi à 25.ª Delegacia de Polícia (Engenho Novo). Nervosa e chorando muito, ela disse: "Eu quero registrar um boletim de ocorrência. O Choque cegou meu filho".
Márcia contou que o filho trabalha com carteira assinada, é casado e tem dois filhos. Mas ele e a mulher moram em casas separadas, cada um com sua mãe, por não terem como pagar o aluguel. "Ele foi para a ocupação para ter a independência dele e da família. Ele é trabalhador, tem outros dois bicos fixos", afirmou.
Márcia disse que houve "um massacre". Segundo elas, os moradores da ocupação estavam dormindo, às 5h15, quando a polícia chegou. "Ele estava tentando sair do barraco, quando levou o tiro. No hospital disseram que ele está cego. Eu tinha esperança, é meu único filho. Ele era meus olhos, minhas pernas. E agora?", desabafou Márcia, que teve a perna esquerda amputada quando criança. "Eu disse para o policial do Choque: você cegou o meu filho. E ele me disse um palavrão". Ela apresentou o boletim médico emitido pelo hospital para fazer o registro da ocorrência.
A assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Saúde confirmou que o entregador de pizza Maycon Gonçalves Melo, de 25 anos, ficou cego de um olho. Ele está internado no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. Segundo o boletim médico, Melo teve perda do globo ocular esquerdo por ação de corpo estranho.
Os médicos descartam a hipótese de ele ter sido atingido por projétil de arma de fogo, mas não fazem menção à bala de borracha. A mãe do entregador, Maria da Conceição Gonçalves, de 42 anos, acusa policiais do Batalhão de Choque de terem atirado na direção do seu filho, durante a desocupação do prédio da empresa Oi, no Engenho Novo, na zona norte.
fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,morador-de-predio-desocupado-fica-cego-apos-ser-atingido-por-tiro,1152536,0.htm

quinta-feira, 10 de abril de 2014

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Álvaro Dias é expulso por estudantes de universidade do PR após palestra sobre ética

Álvaro Dias teve que empreender fuga ontem (4) à noite depois de palestra sobre “ética” na Universidade Estadual do Centro-Oeste, em Guarapuava, a 250 km de Curitiba; senador atribuiu protesto a “grupelhos do PCdoB e PT despreparados para o debate de ideias afrontaram a democracia”; acadêmicos devolveram acusando o parlamentar de ser uma espécie de Demóstenes Torres (falso moralista) do Paraná; “Cavalaria, abaixo o choque! Cavalaria, abaixo o choque!”, gritavam os estudantes, em referência ao confronto da PM com professores em 1988, quando o tucano era governador do Paraná; assista ao vídeo com as vaias, a fuga e todo o quiproquó.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) foi literalmente expulso ontem à noite da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), no município de Guarapuava, a 250 km de Curitiba, na região Centro do Paraná. O tucano falou à comunidade acadêmica sobre “Ética na vida pública”.
“Cavalaria, abaixo o choque! Cavalaria, abaixo o choque!”, gritavam os estudantes nos corredores da Unicentro em perseguição à comitiva do senador Álvaro Dias, que teve de deixar às pressas o prédio da Universidade, após a conferência. As vaias e o quiproquó todo foram registrados em vídeo (assista logo abaixo).
Em 30 de agosto de 1988, quando Álvaro era governo do Paraná Batalhão de Choque e Cavalaria da PM foram utilizados para dispersar professores em greve que protestavam em frente ao Palácio Iguaçu (sede do governo estadual). A partir desse confronto, todos os anos, profissionais da educação fazem eventos para relembrar o “massacre” atribuído ao tucano.
Em seu perfil no Facebook (clique aqui), o senador acusou “grupelhos do PCdoB e PT” de tumultuar o evento de ontem na Unicentro. Segundo ele, “despreparados para o debate de ideias afrontaram a democracia”.
“Revelaram o medo que começa a ganhar corpo, de que os detentores do poder, estão em fim de festa com a aproximação das eleições”, observou o parlamentar do PSDB.
Não foi somente Álvaro Dias que teve problemas com estudantes no dia de ontem (4). Em Umuarama, na região Noroeste do estado, a 563 km da capital paranaense, o governador Beto Richa (PSDB) bateu boca com o estudante de agronomia Luan Ferro, do campus da UEM, VEJA O :
FONTE: http://www.esmaelmorais.com.br/2014/04/estudantes-expulsam-alvaro-dias-de-universidade-apos-palestra-sobre-etica-no-parana-assista-ao-video/

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Documento secreto revela papel da Globo na ditadura

Nos EUA, um documento secreto que confirma a influência de Roberto Marinho, fundador da Globo, nos bastidores da ditadura militar no Brasil
A Jornalista Helena Sthephanowitz obteve documento precioso, que ficou guardado durante 50 anos, sobre o papel de Roberto Marinho na ditadura militar que atirou o País às trevas durante 21 anos. Nele, o embaixador Lincoln Gordon relata a seus superiores suas conversas com o então presidente das Organizações Globo. Ambos discutiam a sucessão de Castelo Branco e o endurecimento do regime. A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura.
Helena Sthephanowitz, Rede Brasil Atual
No dia 14 de agosto do 1965, ano seguinte ao golpe, o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama então classificado como altamente confidencial – agora já aberto a consulta pública. A correspondência narra encontro mantido na embaixada entre Gordon e Roberto Marinho, o então dono das Organizações Globo. A conversa era sobre a sucessão golpista.
Segundo relato do embaixador, Marinho estava “trabalhando silenciosamente” junto a um grupo composto, entre outras lideranças, pelo general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar; o general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI); Luis Vianna, chefe da Casa Civil, pela prorrogação ou renovação do mandato do ditador Castelo Branco.
No início de julho de 1965, a pedido do grupo, Roberto Marinho teve um encontro com Castelo para persuadi-lo a prorrogar ou renovar o mandato. O general mostrou-se resistente à ideia, de acordo com Gordon.
No encontro, o dono da Globo também sondou a disposição de trazer o então embaixador em Washington, Juracy Magalhães, para ser ministro da Justiça. Castelo, aceitou a indicação, que acabou acontecendo depois das eleições para governador em outubro. O objetivo era ter Magalhães por perto como alternativa a suceder o ditador, e para endurecer o regime, já que o ministro Milton Campos era considerado dócil demais para a pasta, como descreve o telegrama. De fato, Magalhães foi para a Justiça, apertou a censura aos meios de comunicação e pediu a cabeça de jornalistas de esquerda aos donos de jornais.
No dia 31 de julho do mesmo ano houve um novo encontro. Roberto Marinho explica que, se Castelo Branco restaurasse eleições diretas para sua sucessão, os políticos com mais chances seriam os da oposição. E novamente age para persuadir o general-presidente a prorrogar seu mandato ou reeleger-se sem o risco do voto direto. Marinho disse ter saído satisfeito do encontro, pois o ditador foi mais receptivo. Na conversa, o dono da Globo também disse que o grupo que frequentava defendia um emenda constitucional para permitir a reeleição de Castelo com voto indireto, já que a composição do Congresso não oferecia riscos. Debateu também as pretensões do general Costa e Silva à sucessão.
Lincoln Gordon escreveu ainda ao Departamento de Estado de seu país que o sigilo da fonte era essencial, ou seja, era para manter segredo sobre o interlocutor tanto do embaixador quanto do general: Roberto Marinho. Abaixo o documento:
documento globo apoio ditadura
FONTE: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/04/documento-secreto-revela-papel-da-globo-na-ditadura.html

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Mino Carta, então diretor de redação da revista Veja, narra sua conversa com os chefões da censura, em 1974

Dois ovos fritos me encaram. Armando Falcão tem órbitas abissais e lá no fundo se instalam os ovos. Almoço no restaurante do Hotel Ouro Verde, no Rio, fevereiro de 1974. Quem sugeriu o encontro foi o general Golbery, articulador do governo Geisel cuja posse está marcada para 15 de março. Falcão será o próximo ministro da Justiça e ali estou para conversar sobre os rumos da censura que há quatro anos invade a redação de Veja. Segredou-me Golbery, futuro chefe da Casa Civil, que a intenção é retirá-la de vez, a censura, em nome da distensão, a palavra recentemente entrou no jargão político para indicar uma cautelosa abertura do sistema.
Nada disse aos patrões Civita a respeito do almoço porque só podem atrapalhar, se a reunião der bons resultados aí sim farei meu relato. A despeito do olhar avermelhado que brota das crateras como faísca antes da erupção, o futuro ministro mostra a cordialidade do velho amigo, embora eu o tenha conhecido faz pouco tempo, apresentado no ano anterior pelo então editor de Política de Veja, Elio Gaspari. Diz ele que o novo governo da ditadura vai acabar com a censura não somente em Veja mas também no Estadão e, portanto, no Jornal da Tarde, e nos jornais alternativos, ditos também nanicos.
Pergunto por que FolhaGloboJornal do Brasil nunca foram censurados. “Está claro, não é? Nunca deram motivos, sempre estiveram conosco.”
Conosco? Algo resmunga por dentro. Ainda assim, arrisco outra pergunta: “E o Estadão não estava com vocês?”
“O jornal da família Mesquita teve um papel importante antes da revolução e também logo depois. O problema é que os donos são muito ligados ao Lacerda, o Carlos acabou por se indispor conosco porque o poder não sobrou com ele, além disso os Mesquita se têm em alta conta, alta demais...”
Conosco... A palavra ensombrece a mesa. Que esperava, no entanto? Que Falcão não fosse um “revolucionário”? Ele deixa-se enfaixar pelo terno branco, azul a gravata, pretos os sapatos, lenço de cambraia no bolsinho do paletó. É gordo, nariz bulboso, as mãos sobre a mesa são dois sapos a engatilhar o salto, a pele do rosto também evoca o batráquio. Dele nada emana que inspire simpatia, e sou tomado pela sensação depressiva que a companhia gera na obrigação de dar ouvidos a um medíocre provinciano, empolado, e subdoloso, um sargento de repente promovido a capitão. Ele garante que a censura vive seus estertores, aos poucos sairá de todas as redações hoje atingidas, parece emocioná-lo a perspectiva de retirá-la do Estadão em janeiro do ano seguinte, no centenário da fundação do jornal.
E nós? “Você serão os primeiros, vou chamá-lo a Brasília logo depois da posse para acertar os ponteiros.” Saio do Ouro Verde e me reencontro no gabinete do ministro da Justiça em Brasília, dia 19 de março. Falcão trocou de terno, este azul-marinho, o lenço de cambraia é o mesmo. “Viu? Cumpri a promessa.”
É começo da semana, de volta a São Paulo não encontrarei mais os censores. “Vocês estão livres.”
“Isso não implica qualquer compromisso de nossa parte”, acentuo em tom manso.
“Óbvio, meu caro, nada pedimos em troca.”
O ministro vive seu papel com sofreguidão contida com parcimônia em um gesto ou noutro, no repentino tom de voz a ganhar ressonância de um dó de peito, sinto-o cioso do cargo em um esforço malogrado por quanto há de caricato no seu comportamento. E como se ele próprio estivesse a olhar a cena pelo buraco da fechadura, e a se comprazer com seu desempenho. Mas é de principiante.
Ando pelos corredores anódinos e intermináveis de Brasília, saio do Ministério da Justiça e vou ao Planalto e me percebo no mesmo, exato lugar, é a maldição do labirinto da capital sem as circunvoluções enganosas daquele de Creta, seu ardil reside na repetição exaustiva do trajeto ausente de mudanças de cenário, as mesmas portas, os mesmos lambris, os mesmos carpetes, os mesmos mármores. Alain Resnais aqui faria outro filme para contar Marienbad. As mesmas secretárias, os mesmos contínuos, as mesmas recepcionistas... Não procuro, porém, o Minotauro, no Planalto vou ao gabinete do chefe da Casa Civil, Golbery pediu-me para aparecer depois da audiência com Falcão.
“Tudo bem – relato –, a censura já se foi e ele até me deu, com dedicatória, o seu último livro.”
“Sei, sei – diz Golbery –, A Revolução Permanente, o Falcão é nosso Trotski.”
Dedicatória: “Ao Mino Carta, com o abraço de Armando Falcão.”
E subitamente estou na sala de Victor Civita, boss da Editora Abril, sete andares de concreto, alumínio e vidro às margens do Tietê, o rio humilhado carrega os dejetos da cidade e sobre a sua pele escura, impermeável, pantanosa, já vi passar carcaças de animais e armações de velhas poltronas tiradas do sótão. Começo de abril de 1974, segunda-feira. Mal chego à redação de Veja e recebo o apelo de Vici, como Civita Senior é chamado pelos Juniores. Desço ao sexto andar, reservado aos donos, perseguido a caminho pela sombra opressiva dos quadros que estupidamente se penduram nas paredes, Vici posta-se atrás de sua larga mesa em formato de feijão, de hábito em pose relaxada, agora de peito esticado à frente, prorrompente, mãos crispadas sobre os braços da poltrona giratória de couro, exclama, quase grito: “A censura voltou.”
Vivemos sem ela três semanas e no período eu me ative aos termos da conversa com Falcão: sem compromissos. Com cautela, contudo. Na primeira semana extraio da gaveta uma reportagem sobre os exilados graúdos, Arraes, Brizola e alguns outros. Texto olímpico, de puro registro dos fatos, sem qualificativos, ilustrado por uma foto de Brizola, de boné, agachado no meio do campo uruguaio, abraçado a um cordeiro. Passam incólumes, o bom pastor e os demais, embora me alcance por meio do diretor responsável da editora, Edgard de Silvio Faria, o eco de vagas queixas fardadas.
Na semana seguinte, no décimo aniversário do golpe, que também nós aceitávamos na escrita como revolução, fizemos o balanço em uma série de textos bastante comedidos, bem menos talvez, na visão de olhos sensíveis, que a própria capa, estampa em clima funeralesco um xis de ferro, sinistro, opressivo. Passaram as reportagens e o sombrio dez romano, mas o eco das lamentações ficou mais audível. Inclusive pela voz de trovejante locutor a transferir para a política toda a selvageria da cobertura futebolística, um certo Amaral Netto, dono de um largo espaço na tevê Globo. Definia-me como um envia-do do Kremlin para pregar marxismo-leninismo e enganar os Civita, família de argentários de ligações mafiosas.
Não era a primeira vez em que me via apontado como missionário soviético, já houvera um redator do Estadão, Lenildo Tabosa Pessoa, disposto a escrever uma suntuosa diatribe a meu respeito para me apontar à execração publica não somente por minhas incursões ideológicas, talvez nem de todo sinceras, e vinha aí a segunda bordoada, porque escolhidas por modismo próprio de um radicalismo pretensamente chique. Lenildo havia trabalhado na editoria Internacional sob a chefia de meu pai e, fundamentalista católico, não me perdoava por ter impedido que na hora da morte, 30 de outubro de 1964, o chefe recebesse a extrema-unção. Seis anos depois, Lenildo publicou sua minica, intitulada contudo “O Senhor Demetrio”, singular figura, ele dedicava poema de pornografia extrema a jovens redatoras.
Quatro anos depois, ao som hidrófobo das invectivas de Amaral Netto, em Veja precipitou a crise na terceira semana uma charge de Millôr Fernandes, na seção que ocupava duas páginas havia tempo, mostra um torturado crucificado em sua cela enquanto um balão sai de trás da porta para revelar: “Nada consta.” Da mesa de Vici ligo para o gabinete de Golbery. A ligação recorda as transmissões radiofônicas de jogos da seleção canarinho na África, mas ouço claramente o chefe da Casa Civil dizer “desta vez vocês passaram da conta”.
“Se a carapuça serve”, rosno. A ligação cai. A vigilância do diretor responsável da Abril desta vez não funcionou. Incumbido de analisar diariamente o material a ser publicado por Veja, Edgard de Silvio Faria aprovou a seção de Millôr. E a censura voltava com a exigência de receber textos e fotos em Brasília toda terça-feira.
Vici perdeu a pose inicial, parece um marionete atirado a um canto do bastidor. No fim da tarde volto a ligar para Golbery, digo: “Gostaria de ir a Brasília amanhã, para uma conversa com o senhor.”
“Sem dúvida, precisamos conversar, hoje de manhã a ligação estava muito ruim, não se ouvia cousa alguma...”
Aviso o patrão e ele me informa: chegou um telex da sucursal de Brasília, do diretor Pompeu de Souza, diz que, segundo Falcão, Mino é codinome. “Olha só que surpresa...”, digo. Colho do outro lado o silêncio do chairman of the board.
Peço três passagens de ida e volta à capital e uma limusine para me esperar no aeroporto, levo meus dois filhos, Manuela e Gianni, doze e dez anos. Ficam deslumbrados com a ideia de visitar a celebrada capital. Quanto à limusine, é simbólica do desafio, amplo, geral e irrestrito.
A secretária do ministro, dona Lurdinha, senhora de modos caseiros, redonda rola sobre o carpete sem perder o sorriso, chega-se ao meu ouvido, murmura: “Veio também o senhor Roberto Civita, quer ser recebido mas não tem hora marcada.” Não deixo que o tempo se estique inutilmente, tomo a visão panorâmica da antessala e vejo Arci, entalado em uma poltrona, com expressão perdida na paisagem da savana descortinada além das vidraças. “Que faz aqui?”, e ouço o meu próprio latido.
Evoco a cena, mas a memória ignara da cronologia me precipita em um tempo anterior em catorze anos, acabo de conhecer Roberto Civita, moço de vinte e quatro, tez avermelhada e brilhosa qual fosse untada, o nariz de bico esponjoso suporta óculos de lentes espessas, não demora para me perguntar qual é meu quociente de inteligência. Por insistência dele, a Abril exige antes da contratação que o candidato seja submetido a um exame psicotécnico. As altas esferas concederam que eu não o fizesse, mas ele acha oportuno conhecer minhas aptidões, concentradas em um número cabalístico. Confesso que nunca enfrentei o tal exame, de sorte a ignorar meu QI. Generoso, ele me comunica o dele, daí minha pergunta “e é satisfatório?”.
“Bem – soletra ele, sem piscar –, há um QI como o meu a cada vinte e cinco milhões de pessoas.”
O Brasil conta com setenta milhões de habitantes, deduzo, não sem ingenuidade: “Então só pode haver mais dois iguais a você.”
Atalha: “Pode, sim, mas também pode não haver e então eu seria o único, o cálculo leva em conta a população mundial.”
Ganhei a certeza da inconfiabilidade dos exames psicotécnicos e ao longo dos anos todo contato com Arci convalidou a percepção inicial, o ego do rapaz sempre bailou insopitável na demonstração de sua mediocridade. Agora, na antessala do gabinete ministerial, saboreio sua aflição a reduzi-lo a uma súbita humildade.
“Vici me contou que você viria, e eu gostaria...”
“Você não pediu audiência, não tem hora”, proclamo.
Ele insiste, à beira da imploração. O meu tom chama a atenção de Manuela e Gianni, encaram a cena sem entender o assunto, percebem porém que o pai está muito irritado enquanto o outro tem jeito de pedinte. Lurdinha traz uma laranjada para as crianças e avisa que o general está à espera. Admito: “Você entra comigo, mas se compromete a não abrir a boca.” Ele promete.
Na conversa que se segue no gabinete da Casa Civil o meu argumento é óbvio: Veja é uma revista semanal que encerra o trabalho na noite de sábado e vai às bancas às segundas-feiras; obrigá-la a submeter textos e fotos aos censores na terça significa inviabilizá-la. Pergunto a Golbery: “Os senhores pretendem que Veja simplesmente acabe?” Não, nada disso. “Então é preciso pôr em prática outro sistema.”
O chefe da Casa Civil entende e concorda. Diz: “Vá até o Ministério da Justiça, fale com Falcão, a Lurdinha já vai avisá-lo, diga a ele que vamos procurar uma saída até amanhã no máximo, a próxima edição tem de sair regularmente.”
Golbery fica de pé, hora da despedida. O general não conhecia o patrãozinho que até aquele momento cumpriu a promessa feita na antessala. E de supetão abre a boca: “General, se o senhor acha que devemos tomar alguma providência em relação ao Millôr Fernandes...”
Golbery fulmina-o: “Senhor Civita, não pedi a cabeça de ninguém.”
Há quem diga que Arci se parece com um cachorrão pelancudo, nunca como nesse instante a semelhança me pareceu tão evidente. Como cão enxotado do quarto sai de focinho a fazer cócegas ao carpete. Na antessala digo, com irrecorrível desprezo: “Bem que tinha pedido que você ficasse calado, mas você é um imbecil.”
Eis-me agora com Falcão, já ensaiei o encontro e de saída extraio do bolso minha cédula de identidade como o promotor que traz a prova do crime, e a jogo sobre a mesa ministerial: “Olhe, olhe, aqui sou Demetrio, Mino não é codinome, é apelido.” Vejo novamente ovos fritos em lugar de olhos.
De limusine, damos uma larga volta, com parada nos pontos de atração. No retorno de avião, conversamos como turistas, Gianni pergunta, no tom da incredulidade: “Mas é mesmo a capital?” Nunca viram cenário igual, que se pareça tão remotamente, ou que não se pareça por completo com uma cidade. “Vocês têm de entender – digo eu – que ela não foi bolada para ser habitada por seres humanos, é sob medida para os carros, em Brasília eles escancaram os capôs e dão risadas.” Meus herdeiros associam-se aos veículos automotores.
Estranha cidade, construída para induzir o País a segui-la como se conviesse ao Brasil preencher a solidão da savana. O rei distanciou-se dos súditos, às vezes me pergunto se deles não a incomodasse a proximidade, de sorte a preferir cometer seus pecados ao longe, protegidos por imensidões sem outra serventia. Um presidente muito louvado, Juscelino, aquele que a construiu, foi coerente, inaugurou uma indústria automobilística e de Brasília fez sua capital muito antes de ser a do Brasil. Décadas após, repetiu, com redobrada eficácia, outro presidente, Washington Luís, o qual asseverava “governar é construir estradas”.
Quando fomos colônia inglesa os albiônicos pretendiam tecer sobre o país-continente uma infinda e providencial teia ferroviária, o plano mal passou à execução e no relâmpago de um lustro enterrou seus trilhos.
Brasília é a capital do nosso intransponível delírio infanto-tropical, matriz da loucura foliônica e dos interesses rasteiros que nos moldam, mas esta parte da minha pensata omiti para Manuela e Gianni.

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Este relato é parte do livro "Brasil', lançado em 2013 pela editora Record. A obra mescla ficção com memórias de fatos reais (como o descrito acima).
fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/entreato-3943.html

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Portuguesa deve disputar série A do Brasileirão, decide juiz



A Justiça de São Paulo determinou que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) dever incluir a Portuguesa na série A do Campeonato Brasileiro de 2014. O clube havia sido rebaixado para a série B deste ano após perder quatro pontos por conta da escalação de um jogador considerada irregular em uma partida no campeonato do ano passado. A decisão é do juiz Miguel Ferrari Junior, da 43ª Vara Cível Central. Ele concedeu tutela de urgência para suspender os efeitos do julgamento do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
A ação foi ajuizada pela Portuguesa contra a Federação Paulista de Futebol (FPF), Fifa e CBF, sob a alegação de que a punição imposta ao atleta Héverton — que teria sido suspenso por duas partidas — só foi publicada no site da CBF três dias após o julgamento pela corte desportiva. Nesse período, o jogador atuou na partida contra o Grêmio, fato que resultou na perda dos pontos.
Para o magistrado, “a ausência de publicação da decisão combatida no sítio eletrônico da CBF antes da realização da partida entre Portuguesa e Grêmio impediu a produção de seus regulares efeitos, razão pela qual o jogador tinha plenas condições de ser relacionado e escalado para a disputa esportiva. Entendo que a ausência de publicação na forma estabelecida pelo Estatuto do Torcedor fere não somente esta norma jurídica, mas sobretudo a Constituição Federal, que estabelece como pilares fundamentais, dentre outros, a segurança jurídica, a legalidade e o devido processo legal”.
Em sua decisão, o juiz determinou ainda a imposição de multa diária de R$ 500 mil caso a CBF não inclua o clube paulista no Campeonato Brasileiro de 2014, a contar da data do início da competição, bem como o pagamento do mesmo valor diário caso a entidade aplique qualquer sanção à Portuguesa por ter ajuizado ação na Justiça comum. Cabe recurso da decisão. Com informações da Assessoria de Imprensa do TJ-SP.
FONTE: http://www.conjur.com.br/2014-abr-02/portuguesa-disputar-serie-campeonato-brasileiro-decide-juiz

terça-feira, 1 de abril de 2014

Rússia anuncia fim do desconto no preço do gás vendido à Ucrânia

A empresa estatal russa de gás natural Gazprom anunciou hoje (1º) o fim do desconto no gás vendido à Ucrânia. A medida eleva o preço pago pelo governo ucraniano em mais de 40%, passando a US$ 385,50 para cada mil metros cúbicos de gás importado. O preço anterior (US$ 268,50) tinha sido acertado em dezembro passado com o então presidente Viktor Ianukóvitch, deposto em fevereiro.

O desconto era dado em troca do aluguel da base de sua frota no Mar Negro. No dia 21 de março,após a anexação formal da Crimeia, península estratégica onde fica a base, a Rússia anunciou a suspensão do desconto. O acordo, firmado em abril de 2010, estabelecia um desconto de US$ 100 para cada mil metros cúbicos de gás comercializados pela Rússia para a Ucrânia.

Há duas semanas, o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, disse que, além de suspender o desconto, o governo russo cobraria judicialmente o pagamento de uma compensação no valor de US$ 11 bilhões equivalentes ao desconto aplicado nos últimos quatro anos.
 
Crimeia


*Com informações da Agência Lusa

FONTE: http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2014-04/russia-anuncia-fim-do-desconto-no-preco-do-gas-vendido-ucrania