Nas escadarias de mármore branco do antigo Cine Marrocos, Douglas
Gomes, de 35 anos, orienta duas jovens com crianças de colo a pedir o exame de
DNA de seus ex-maridos. Ele é o mentor jurídico do Movimento dos Sem Teto do
Sacomã (MSTS). Em menos de 9 meses desde sua fundação, a entidade já
comanda sete ocupações no centro. Nelas moram 996 famílias que pagam
mensalidade de R$ 200.
"Nós estamos buscando credenciamento do governo federal para construir obras
do Minha Casa Minha Vida", afirma Gomes sobre o objetivo do movimento.
"Precisamos de uma aliança política com os governos, para conseguir parcerias",
emenda.
O MSTS tem sido um dos protagonistas das manifestações de sem-teto que
pararam a cidade nos últimos três meses. Todos os moradores de suas sete
ocupações são obrigados a participar dos protestos, com a camisa da entidade, que
custa R$ 15. Quem ajuda Gomes a coordenar as famílias é a líder sem-teto Dalva
Silva, de 32 anos. O presidente é Robson Santos, filiado ao PT há mais de 20 anos.
"O governo municipal já disse que as invasões com menos de um ano não vão
virar moradia. Não vamos poder ficar aqui no Cine Marrocos", diz Douglas,
ciente da situação do edifício, desapropriado em 2012 para virar sede da Secretaria
Municipal de Educação. Sobre as mensalidades de R$ 200, ele diz que o valor
cobre apenas os custos da ocupação.
Pelos corredores foram instaladas câmeras de segurança - um circuito interno de
TV é monitorado por um funcionário contratado pelo movimento. "Muito
condomínio não tem essa estrutura", afirma Gomes. / D.Z.
Conhecido como ocupação Sé, Edifício Nazareth foi invadido no final de janeiro e tem 51 famílias, que totalizam 170 pessoas
Angolanos, peruanos, bolivianos, guineenses e nigerianos formam a maior parte dos moradores do edifício Nazareth, localizado no número 47 da Praça da Sé, no coração da capital paulista. Ocupado há cerca de cinco meses, o prédio - bem conservado, limpo e com as ligações de água e luz regularizadas - é uma verdadeira Torre de Babel, onde vivem 51 famílias (que totalizam 170 pessoas). Segundo os dirigentes do Movimento do Sem-teto de São Paulo (MSTS), responsável pela ocupação, 60% dos novos moradores são estrangeiros.
“Eles chegam ao Brasil muitas vezes sem conhecer ninguém, não têm para onde ir e acabam indo para as ocupações”, diz a coordenadora do Nildalva Silva, 32 anos, conhecida como Dalva, para explicar a forte presença dos estrangeiros na ocupação.
Ana Flávia Oliveira/iG São Paulo
Ana Mimi e a coordenadora Dalva conversam no hall de um dos andares
O prédio, que antes de ser ocupado pelo movimento abrigava conjuntos de escritórios, tem 11 andares - cada um com quatro a cinco salas transformadas em pequenos apartamentos e dois banheiros, que são divididos entre duas ou três famílias. O edifício tem ainda dois elevadores que levam os moradores até o 10º andar - para chegar ao último é preciso subir um lance de escada em caracol. Dalva diz que o elevador foi consertado pelos ocupantes.
Moradora do 11º, a angolana Maria Madalena, de 37 anos, vive com o marido e os três filhos - uma adolescente de 15 anos, um menino de 12 anos e uma menina de 8 anos - em um apartamento com um quarto, banheiro - apenas para o uso da família-, cozinha e varanda, de onde é possível ter uma vista privilegiada da Praça da Sé, com a catedral e o Palácio da Justiça ao fundo.
Maria chegou ao Brasil há dois anos e antes de viver no edifício Nazareth pagava aluguel de R$ 700 em uma casa de três cômodos em Guaianases, na zona leste da capital. Hoje, assim como todos os moradores, ela contribui com R$ 100 a R$ 200 revertidos para o pagamento das contas de consumo e manutenção do prédio, segundo o MSTS.
“A renda está muito cara. Vivia em uma casa, pagava luz, pagava água, internet. Tudo chega ao custo de R$ 1.000. Eu sou cabeleireira: um dia tem trabalho, outro dia não tem. Como fica? A gente tem tudo com muita dificuldade. Quando a gente escutou esse movimento, viemos juntos lutar. Conseguimos esse lugar. A gente está pagando um preço que, se hoje não consegue, amanhã, consegue”, diz Maria.
“Eles chegam ao Brasil muitas vezes sem conhecer ninguém, não têm para onde ir e acabam indo para as ocupações”, diz a coordenadora do Nildalva Silva, 32 anos, conhecida como Dalva, para explicar a forte presença dos estrangeiros na ocupação.
Ana Flávia Oliveira/iG São Paulo
Ana Mimi e a coordenadora Dalva conversam no hall de um dos andares
O prédio, que antes de ser ocupado pelo movimento abrigava conjuntos de escritórios, tem 11 andares - cada um com quatro a cinco salas transformadas em pequenos apartamentos e dois banheiros, que são divididos entre duas ou três famílias. O edifício tem ainda dois elevadores que levam os moradores até o 10º andar - para chegar ao último é preciso subir um lance de escada em caracol. Dalva diz que o elevador foi consertado pelos ocupantes.
Moradora do 11º, a angolana Maria Madalena, de 37 anos, vive com o marido e os três filhos - uma adolescente de 15 anos, um menino de 12 anos e uma menina de 8 anos - em um apartamento com um quarto, banheiro - apenas para o uso da família-, cozinha e varanda, de onde é possível ter uma vista privilegiada da Praça da Sé, com a catedral e o Palácio da Justiça ao fundo.
Maria chegou ao Brasil há dois anos e antes de viver no edifício Nazareth pagava aluguel de R$ 700 em uma casa de três cômodos em Guaianases, na zona leste da capital. Hoje, assim como todos os moradores, ela contribui com R$ 100 a R$ 200 revertidos para o pagamento das contas de consumo e manutenção do prédio, segundo o MSTS.
“A renda está muito cara. Vivia em uma casa, pagava luz, pagava água, internet. Tudo chega ao custo de R$ 1.000. Eu sou cabeleireira: um dia tem trabalho, outro dia não tem. Como fica? A gente tem tudo com muita dificuldade. Quando a gente escutou esse movimento, viemos juntos lutar. Conseguimos esse lugar. A gente está pagando um preço que, se hoje não consegue, amanhã, consegue”, diz Maria.