terça-feira, 1 de novembro de 2016

NATUREZA: Represas de SP registram mais de 100 afogamentos

Represa de Guarapiranga / Foto: Nico Nemer/DiárioSP

Até a última quinta-feira (27), 76 pessoas haviam morrido afogadas em represas, lagoas e rios na capital em 2016. No mesmo período, o Corpo de Bombeiros conseguiu resgatar com vida outros 113 banhistas que afundaram nestas mesmas águas.
Ainda segundo a corporação, o número mortes começa a aumentar em novembro e atinge seu pico entre dezembro e março. Por isso, é importante redobrar a atenção, sobretudo com crianças e adolescentes, e com quem não sabe nadar, claro. E atenção especial às pessoas alcoolizadas que entram na água. São elas as maiores vítimas  por afogamentos.
“Historicamente, quase 80% das vítimas fatais são do sexo masculino, com idades entre 15 e 28 anos”, explica o capitão Alexandre Antunes Neves, comandante do Subgrupamento do Corpo de Bombeiros na Represa de Guarapiranga, Zona Sul.  A represa tem 36 quilômetros quadrados e 12 pontos monitorados diariamente para evitar que alguém se afogue.
Apesar disso, ainda são comuns casos de morte no local, pois muitas das áreas são de difícil acesso e não há moradias nas proximidades. Carros não chegam até a beira da água. Só é possível acessar a área por trilhas improvisadas, ou de lancha, como são feitos a maior parte dos resgates.
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E quando há residências perto, elas costumam ser ocupações com moradias precárias, onde muitos não sabem nadar. Para piorar, no caso da Guarapiranga, ainda há diversas construções abandonadas, onde não é raro grupos se reunirem para consumir drogas.
“É difícil fazer a população entender isso, mas bebida e drogas não combinam com água em nenhum momento. Ao consumi-las, perde-se a capacidade de avaliação de risco. E sem esse limite, o risco de afogamento aumenta muito”, completa Antunes.
A Praia do Castelo, onde há uma edificação abandonada que dá nome ao local, é uma das que mais preocupam a corporação. O imóvel fica à beira de um barranco e a profundidade ali chega a cinco metros. E isso a menos de três metros de distância da margem. 
Ao lado do ‘castelo’ foram construídas casas nos últimos três anos. Os moradores costumam amarrar cordas em uma árvore para se balançar e cair na água. Como muitos não sabem nadar, o risco é grande.
Como reforço, para o período de dezembro a março, só na Guarapiranga, os bombeiros devem contratar temporariamente mais 50 salva-vidas, para se juntarem aos outros 25 que trabalham no local.
Entrevista: Alexandre Antunes Neves_capitão do Corpo de Bombeiros
‘Crianças sozinhas, bebida e boia improvisada são riscos’
DIÁRIO_ Por que ocorrem tantos afogamentos em represas e lagoas na capital?
ALEXANDRE ANTUNES NEVES_ Primeiro porque muitos banhistas não respeitam placas que indicam que é proibido nadar e que não são monitorados por guarda-vidas. Nesses locais a água costuma ser turva e o solo é irregular. De repente o banhista cai em um buraco e, se não sabe nadar, há grandes chances de se afogar nessa situação. E também há crianças desacompanhadas, adultos alcoolizados, objetos inapropriados utilizados como boias e até barcos improvisados.
Que tipos de objetos?
Agora a moda é o colchão inflável. O banhista senta ou deita nele e não percebe que o vento o afasta da margem. Quando se dá conta, está em um local profundo e não consegue retornar.  Já socorremos oito meninos em um desses colchões. E nenhum deles sabia nadar. Fora isso, são improvisadas como boias garrafas pet cheias de ar, câmaras de pneus de caminhão, portas de madeira. A criatividade é grande. Mas todos são extremamente inseguros.
E os barcos improvisados?
Recentemente encontramos abandonado um barco feito com telhado de zinco e pedaços de madeira. Ele não tem estabilidade alguma e pode vir a submergir rapidamente.
E é difícil perceber que alguém está se afogando?
Não é fácil, pois o processo não ocorre como em filmes. A pessoa se afoga em silêncio. O pânico que ela está na maior parte das vezes só é possível ver em seus olhos.

Menores ignoram risco e se aventuram em represa

Na tarde de sexta-feira (28), cerca de 30 pessoas estavam na Praia do Sol,  a cerca de 300 metros do grupamento do Corpo de Bombeiros da Guarapiranga. No local, que tem grades, mas permanece aberto durante o dia para quem quiser entrar (não há vigias nem porteiros), a maior parte dos banhistas era composta de adolescentes desacompanhados.
Um grupo de quatro rapazes com idades entre 13 e 17 anos, e sem a presença dos pais, começou a nadar em direção ao fundo e chegou a ficar a cerca de 15 metros da margem. Não fosse um bote dos bombeiros que permanece no local em dias de sol e nos fins de semana – quando chega a haver quase cinco mil pessoas em um domingo quente –, o grupo teria ido ainda mais fundo.
“A gente veio em seis amigos com bicicletas de Interlagos até aqui. Foram uns 40 minutos de pedalada e trouxemos até sanduíches, suco e água”, contou o adolescente de 17 anos. “Nós sabemos nadar, então não tem problema nossos pais não estarem aqui. Mas realmente minha mãe nem tem ideia de que a gente veio dar esse rolê para nadar aqui na represa.”
O colega dele, de 13 anos, ainda admitiu que a aventura perigosa não era inédita. “Na segunda-feira foi a primeira vez que a gente veio e não tinha ninguém. Mas a gente tem noção de onde é perigoso e não vai longe”, disse. Ao ser questionado se gostaria de trazer boias ou colchões infláveis para a água, ele não teve dúvida e respondeu rápido: “A gente só não traz porque não dá para carregar na bicicleta. Mas se desse, encher um colchão de ar, deitar em cima e ficar só relaxando de boa seria muito bom.”
Outro dos amigos contou que na segunda-feira ventava bastante, mas mesmo assim, o grupo foi se divertir na água. “Estava até formando umas ondas meio fortes por causa da ventania, mas estava tudo certo. Não teve problema.”
Na Praia do Sol há três quiosques que vendem bebidas alcoólicas, mas na sexta-feira todos estavam fechados. Segundo frequentadores, eles só abrem nos fins de semana.
A poucos metros dos adolescentes, o chefe de produção Edinei Souza Lopes, 37, acompanhava a filha, Alícia, 2, na beira da água. “Ela não sabe nadar e não deixo ela longe, porque para entrar na água basta um segundo de distração. Se a gente vacila, ela some, então sempre a deixo a uma distância onde posso pegá-la”, contou Edinei, segurando Alícia pelas mãos, enquanto a menina persistia em tentar se soltar.
Entre pai e filha e o grupo de jovens, entretanto, havia uma menina aparentando ter, no máximo, 3 anos sozinha, brincando às margens da represa.
FONTE: http://www.diariosp.com.br/noticia/detalhe/94296/represas-de-sp-registram-mais-de-100-afogamentos

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