sábado, 22 de outubro de 2016

Crivella passou dia preso após tentar despejar à força invasores de terreno

Família de vigia que morava no local diz que bispo os ameaçou na companhia de seguranças armados de revólver, mas candidato nega



Registro. Capa da “Veja” mostra o candidato do PRB no momento em que foi fichado, em 18 de janeiro de 1990 - Reprodução


RIO - A reportagem de capa para o Rio de Janeiro da revista "Veja" mostra que o senador e candidato à Prefeitura pelo PRB, Marcelo Crivella, foi fichado e preso em 18 de janeiro de 1990, ao tentar resolver à força um problema de invasão de terreno da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). O inquérito sobre o caso desapareceu e nenhuma fonte soube explicar à publicação a razão de o registro ter sumido. À época, Crivella era engenheiro responsável pela construção de uma Igreja Universal em Laranjeiras. Conforme O GLOBO apurou, ele também trabalhava na Empresa de Obras Públicas do Estado, de onde foi dispensado, a pedido, no dia 27 de março de 1990. Ele tomara posse na Emop no dia 18 de maio de 1987.

Crivella era pastor iniciante num templo em São Paulo e estava de passagem pelo Rio quando foi à propriedade e acabou na delegacia. Crivella passou o dia preso na 9ª DP, no Catete, diferente do que o mesmo afirmara em vídeo publicado em sua página no Facebook. Segundo a revista, a ficha só teria voltado aos arquivos oficiais há seis meses, na forma de uma discreta anotação em um cadastro estadual de acesso restrito.

As informações sobre o inquérito foram passadas pelo próprio Crivella à "Veja", depois que a revista teve acesso à foto do senador fichado com uma pessoa que a guardou por décadas. O bispo licenciado conta que o inquérito, ao qual se refere como "um espinho na minha carne", havia sido arquivado um ano após o fato e o delegado da época, João Kepler Fontenelle, lhe entregou o documento e os negativos das fotos. Ele afirma à revista que a IURD ameaçava processar o delegado pela forma como conduzira o caso. Fontenelle, segundo Crivella, queria constrangê-lo, e a entrega dos negativos seria a garantia de que as fotos comprometedoras e o próprio inquérito nunca mais veriam a luz do dia.

Em 1986, a Universal comprou um punhado de imóveis no bairro das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, e pôs tudo abaixo. Parte do espaço de 840 metros quadrados foi alugada para a instalação de um estacionamento. Outra parte, na Rua Senador Vergueiro, foi reservada para a construção de um templo. Enquanto a obra não começava, Nilton Linhares, de 29 anos, largou a função de motorista e viveu de vigia no local, onde ergueu um casebre com o material cedido pela própria igreja e se instalou com a família. Quando a igreja quis o terreno de volta, ele reivindicou o direito de posse e se recusou a sair. Crivella disse que o fato o deixou "revoltado".

"Acordei de manhã, peguei os caminhões que a gente tinha e fui para lá. Arrebentei aquela cerca. Entrei lá dentro. Comecei a tirar as coisas dos caras e botei em cima do caminhão. Mas não toquei nas pessoas", disse. "Tinha uns dez homens comigo", acrescentou.

A versão dos advogados de Linhares é diferente. Crivella teria ido ao terreno duas vezes. Numa terça-feira, 16, cortou o acesso ao terreno colocando obstáculos, que foram retirados. Na quarta-feira, chegou violento. Arrombou o portão com um pé de cabra e, acompanhado de seguranças armados de revólver, ameaçou a esposa e as duas filhas de Linhares, morto há 15 anos.

Crivella nega. Acionada, a polícia levou o pastor à delegacia, onde passou o dia preso. À noite, saiu com a condição de voltar no dia seguinte. Voltou, foi fotografado e passou mais quatro horas detido. No inquérito, a advogada afirma que ele teria sido "humilhado e taxado (sic) de pastor ladrão".

CARREATA SEM O CANDIDATO
Durante a manhã deste sábado, houve carreata em apoio ao candidato sem a presença dele. Segundo a assessoria de imprensa do senador, não haverá agenda oficial de campanha. Ele irá tirar o dia para gravar programa eleitoral.

Mais cedo, o senador publicou em sua página no Facebook vídeo dando sua versão para a matéria da revista, negando a prisão, que aconteceu.
"Alô, meus amigos. Vocês devem estar se perguntando sobre a capa da revista 'Veja'. Vou esclarecer: nunca fui preso. O que ocorreu é que 26 anos atrás, como engenheiro, eu fui chamado para fazer a inspeção da estrutura de um muro que tinha o risco de cair e machucar as pessoas. O terreno era da Igreja Universal mas estava invadido. Os invasores não deixaram eu entrar. Deu uma confusão danada, foi todo mundo para a delegacia. Lá, o delegado resolveu identificar a todos. Por isso, essa foto que você viu na capa", relata Crivella.

"Mas não deu processo, nada, absolutamente nada. Pelo contrário. Eu que iniciei um processo contra ele por abuso de autoridade. Eu repito, nunca fui preso. Nunca respondi nenhum processo e posso provar com todas as certidões que apresentei no momento em que me inscrevi para ser candidato a prefeito do Rio de Janeiro. Fiquem tranquilos, eu sou 'ficha limpa'. Grande abraço, muito obrigado", conclui.

fonte: http://oglobo.globo.com/brasil/crivella-passou-dia-preso-apos-tentar-despejar-forca-invasores-de-terreno-20338575#ixzz4NpaLtTON

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