Para representantes das polícias, segurança deficiente aumenta pânico

O diretor de ensino da ASS/PM (Associação Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar de São Paulo), Írio Trindade de Jesus, avalia que os criminosos aproveitam as lacunas deixadas pelo Estado. Para ele, é hipocrisia negar a existência de toque de recolher em São Paulo.
— Alguns deles [criminosos] fazem isso, colocam as pessoas para dentro de casa. Principalmente, na periferia, onde a polícia demora para chegar, por uma série de questões. A gente não pode se curvar. A questão maior é que onde o Estado não está presente, o crime toma conta. E isso acontece... São Paulo é muito grande. Não tem como administrar toda sua periferia.
Para o tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da ASPOMIL (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo), os rumores de toque de recolher são uma tática dos criminosos para promover o descrédito do Estado e instaurar um clima de pânico, na maioria das vezes.
— O toque de recolher é um absurdo. A maior parte deles é trote para criar uma instabilidade, para levar uma preocupação para a sociedade, para diminuir o Estado, para mostrar à população que eles (criminosos) têm o controle da situação, e não o Estado.
Procurada pelo R7, a Polícia Militar “esclarece que, em virtude dos últimos acontecimentos relacionados à segurança pública, pessoas mal-intencionadas criam boatos para desestabilizar e amedrontar a sociedade”. Por sua vez, o tenente Dirceu Cardoso protesta até mesmo contra os rumores.
— Não pode haver nem boato de toque de recolher. É um absurdo. Gera um clima de desordem, uma sensação de que o Estado não consegue controlar e que o crime organizado está mandando na situação. É um terror psicológico.
"Trote" na população insegura
O presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), George Melão, comenta que a entidade tem recebido denúncias de toque recolher de vários delegados em diversas regiões da grande São Paulo, da Baixada Santista e até do interior. Ele destaca que, em alguns casos, verificou-se “o mero oportunismo de pessoas irresponsáveis que não tinham qualquer ligação com o crime organizado, que espalharam o boato como forma de trote”.
De acordo com o presidente do sindicato, a percepção dos delegados quanto ao toque de recolher é de uma “sombra”, que muitas vezes não se vê, mas que está bem próxima.
— Em razão da insegurança pública, o medo e o terror tomaram conta da vida do cidadão, principalmente na periferia, onde a ausência do Estado é uma realidade constante. Assim, quando surgem os boatos de toque de recolher, imediatamente tentamos tomar as medidas necessárias para tranquilizar o cidadão. Contudo, em regra, são ineficazes, pois o morador, o comerciante, os professores, enfim, toda a população sabe que a polícia não estará presente 24 horas por dia.
Na avaliação do delegado, o cidadão está vulnerável à criminalidade e, por essa razão, mesmo quando são apenas boatos, “as pessoas procuram não desrespeitar a ‘determinação’, pois se for verdadeira, aquele que desobedecer sabe que sofrerá as consequências”.
Ana Cláudia Barros, do R7
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